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Líder do Sindicato dos Médicos atira-se contra Manuel Homem e culpa-o da actual situação de saúde em Luanda

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O Presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), Adriano Manuel, atribui ao governador provincial de Luanda, Manuel Homem, a “culpa” pela actual situação da saúde em Luanda, em particular no Hospital Geral de Luanda, onde, em Dezembro passado, morreu uma paciente por alegada negligência do corpo clínico.

Em carta de repúdio tornada pública esta terça-feira, 10, em reacção à exoneração da equipa directiva do Hospital Geral de Luanda (HGL), Adriano Manuel lembra que foi Manuel Homem, enquanto ministro da Comunicação Social, quem mais inviabilizou que os órgãos públicos passassem as “informações verdadeiras, justas, relacionadas com a saúde, principalmente aquelas que evidenciavam o péssimo trabalho do governo”.

“Manuel Homem foi e continua a ser um péssimo servidor público. Ele não deixa de ser culpado das mortes nos hospitais de Luanda, pois se a comunicação social pública informasse com verdade, provavelmente, os decisores políticos observariam a situação da saúde de outra maneira”, acusa Adriano Manuel na sua nota de repúdio.

Sistema de saúde carece de quase tudo

O sindicalista atesta, de forma categórica, que a comunicação social, no consulado de Manuel Homem, nunca quis prestar a atenção às reclamações apresentadas por médicos e enfermeiros que denunciavam a falta de medicamentos, de material de laboratórios e de recursos humanos.

“Quantas pessoas faleceram nos nossos hospitais, por carência de quase tudo? Qual foi o papel da comunicação social pública, no tempo em que o actual governador provincial de Luanda foi ministro da Comunicação Social?”, questiona médico, descrevendo, a seguir, o que na sua opinião constituía a ‘verdadeira agenda’ do consulado os media públicos em relação à matéria:

“Fazer propaganda dos números de hospitais que o governo construiu. Não me recordo, em momento nenhum, os órgãos públicos de comunicação avaliarem, de forma crítica, as vantagens ou desvantagens da construção dos mesmos. Hoje, o cidadão Homem, como governador provincial, só está a ser vítima de suas actuações enquanto ministro da Comunicação Social”.

Exoneração do corpo directivo do Hospital Geral de Luanda

Adriano Manuel critica também na sua nota — que assina na qualidade de ‘operador de justiça’ — a decisão de Manuel Homem exonerar a direcção do Hospital Geral de Luanda, chamando a atenção do governante de que “não é nomeando ou exonerando directores” que se melhorar a saúde em Luanda.

O médico, que diz  todos conhecerem no país a situação da saúde em Angola, em particular em Luanda, identifica como problemas do sector a falta de recursos humanos em todas as áreas, desde médicos, enfermeiros, técnicos de laboratórios, maqueiros, motoristas, entre outros.

Estes problemas seriam ainda extensivos à falta de materiais gastáveis, de reagentes, de medicamentos, saneamento básico, e um problema de natureza político-partidária. Ou seja, “a partidarização das instituições hospitalares, sem ter em conta a competência, bem como um projecto devidamente estruturado na perspectiva da melhoria do sistema de saúde primária, entre outros”.

Hospital Geral de Luanda carece de quase tudo

“O Hospital Geral de Luanda carece de quase tudo. Tem excelentes profissionais, bons cirurgiões, bons ortopedistas, ginecologistas, bons internistas, pediatras, bons enfermeiros. O que se passa é que no Hospital Geral falta quase tudo, desde o fio de sutura, luvas, medicamentos e até de recursos humanos”, revela.

Para fundamentar a ‘grave situação’ a que faz referência sobre o Sistema de Saúde Nacional, Adriano Manuel dá como exemplo os vários casos de “pacientes, com acidente vascular cerebral que são transportados por táxis e transportes próprios para os hospitais públicos”.

Foi, de acordo com a nota de repúdio a Manuel Homem, o que teria ocorrido com a paciente que foi a óbito no HGL em Dezembro passado; o caso que espoletou o inquérito aos profissionais de saúde do HGL.

“Esta paciente, segundo a equipa que esteve de banco, chegou em coma, com níveis tensionais elevados, com hemiplegia (ausência de força muscular), transferida de um hospital público, levada pelos familiares por ausência de ambulância na referida unidade. Por que não começou o inquérito naquela referida unidade?”, questiona a nota de Adriano Manuel.

“Respondo”, continua a nota: “Se o fizesse saberia que houve falta de atenção primária nesta paciente, provavelmente por: falta de profissionais, falta de medicamentos, inclusive o mecanismo de transporte desta paciente até ao Hospital Geral…(tudo isto diminuindo a esperança de vida desta pobre senhora)”.

De quem é a culpa então?

A nota de repúdio do médico segue levantando uma série de questões contextuais, que afirma como estando na base da péssima prestação de serviços dos hospitais públicos:

“Quantas mortes acontecem com a mesma natureza, sem que surja um vídeo que se torne viral, a motivar o governador a exonerar com tamanha vaidade as direcções dos hospitais? Precisa o senhor governador, de mais vídeos para melhor a saúde na província? Se sim: vamos motivar a população a filmar o Sistema Nacional de Saúde em Luanda, pois dessa forma o senhor governador vai melhorar a saúde na província”, atira de modo provocativo.

“De quem é a culpa afinal?”, insiste no rol de questões a carta de repúdio do presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola:

“Dos médicos, ou de quem não criou condições de trabalho? Quem não disponibiliza ambulância nos hospitais de Luanda? Quem não coloca os quadros da saúde nos hospitais? De quem é a responsabilidade de disponibilizar medicamentos, materiais gastáveis nos hospitais? É o governo provincial? E quem é o governador? Manuel Homem. Então de quem é a culpa da morte desta paciente?”.

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