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Guiné-Bissau. Sissoco Embaló “preocupa-se mais com a CEDEAO” e esquece o seu próprio país

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Desde que assumiu a presidência da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a 3 de Julho de 2022, o Presidente da República da Guiné-Bissau tem-se desdobrado em viagens para participar em reuniões da organização regional, mas “esquece-se dos problemas reais das pessoas reais”, afirma Guerry Gomes Lopes, coordenador nacional do Fórum das Organizações da Sociedade Civil da África Ocidental “FOSCAO”, em entrevista à DW África.

E explica: “O Presidente da República não dá relevância aos problemas da Guiné-Bissau, preocupa-se mais com a questão da CEDEAO, preocupa-se mais com as suas representações internacionais. Não quer dizer que não sejam importantes essas representações. Ele é actualmente presidente CEDEAO, e, portanto, cabe a ele representar o país nessa organização. Mas, mais do que isso, ele deve representar os interesses dos seus cidadãos e por isso ele deveria zelar melhor pelo normal funcionamento das instituições na Guiné-Bissau”.

Analista acusa Presidente de “comportamento eleitoralista”

Rui Jorge Semedo, sociólogo e analista político guineense, também lança severas críticas a Umaro Sissoco Embaló, pela maneira como — na sua opinião — tem tentado tirar proveito e dividendos políticos da presidência da CEDEAO, a cinco meses das eleições antecipadas por ele convocadas. Nas palavras do analista Rui Jorge Semedo, “a Guiné-Bissau caminha em direccão a um processo eleitoral e certamente que esta presidência da CEDEAO é mais um trunfo para o Presidente da República para conduzir o processo a seu favor”.

Rui Jorge Semedo vai mais longe, afirmando que os interesses e as ambições pessoais do Presidente guineense raramente coincidem com os interesses do país e do povo que o elegeu.

“Penso que quem tem a ganhar mais com esta ascensão é o Presidente da República e não a própria Guiné-Bissau. Esta presidência visa apenas reforçar a influência do senhor Presidente da República, quer a nível interno na Guiné-Bissau, quer no seio da própria organização”, frisou.

Primeira presidência da CEDEAO para um PALOP

A CEDEAO é composta por 15 países, na sua maioria francófonos e anglófonos. Apenas dois países da região — Cabo Verde e a Guiné-Bissau — têm o português como língua oficial, mas nem um nem o outro tinham até à data sido escolhidos para a presidência da conferência dos chefes de Estado da organização.

O analista guineense Rui Jorge Semedo saúda o facto de a escolha ter finalmente recaído sobre um PALOP, mas é da opinião de que Cabo Verde teria sido uma escolha melhor: “Esta presidência da Guiné-Bissau não é uma presidência que realmente pode contribuir para a democratização da comunidade oeste-africana e para a boa governação e o respeito pelos direitos fundamentais nos países que a integram. O país indicado para lidar com esses dossiers seria, sem dúvida, Cabo Verde e não a Guiné-Bissau”.

A opinião é partilhada por Guerry Gomes Lopes, coordenador nacional do Fórum das Organizações da Sociedade Civil da África Ocidental na GuinéBissau “FOSCAO”.

“Ao escolher um país com graves défices democráticos para presidir à organização, a CEDEAO prova que não está verdadeiramente interessada nos cidadãos, mas sim nas elites políticas que os governam. Isto é uma CEDEAO que não se preocupa com as populações, é uma CEDEAO dos chefes de Estado”, critica.

“Para nós, não há grande expectativa com essa presidência da Guiné-Bissau na CEDEAO, porque temos um Presidente que está a fazer tudo para implementar um regime ditatorial, um regime em que o poder se está a concentrar na figura do próprio Presidente; e isso afecta o funcionamento das instituições da própria CEDEAO”, afirma Gomes Lopes.

António Cascais/DW África

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