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Bureau Político do MPLA atribui lugar de consolação a JES no Conselho de Honra

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Após largos anos de omnipresença em vários dos discursos de exaltação, por feitos políticos realizados enquanto Presidente da República e do partido que sustenta o poder em Angola — e depois de experimentar, nos últimos quatro anos, um quase declarado desdém por parte do seu sucessor e antigos aliados — o ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos voltou, esta terça-feira, 14, a ocupar um lugar cimeiro nas decisões do partido, diga-se, à boleia de figuras históricas que deixaram os órgãos de decisão no âmbito do VIII Congresso Ordinário do MPLA.

A primeira sessão ordinária do Secretariado do Bureau Político do MPLA, realizada sob a presidência de João Lourenço, no Auditório do Comité Central, no Complexo Turístico Futungo II, em Luanda, aprovou a composição do Conselho de Honra do partido, tendo o lugar cimeiro cabido a José Eduardo dos Santos, seguido por Roberto António Francisco Victor de Almeida, Julião Mateus Paulo ‘Dino Matrosse’, Francisco Magalhães Paiva ‘Nvunda’, Amadeu Timóteo Malheiro Amorim, Santana André Pitra ‘Petroff’, José Diogo Ventura e Luzia Pereira de Sousa Inglês Van-Dúnem ‘Inga’, no oitavo lugar.

A lista segue com o nome de Maria da Conceição Roque Caposso, em novo lugar, seguida de Maria Rufina Ramos da Cruz, Irene Judith de Sousa Webba da Silva, Teresa de Jesus Cohen dos Santos, Rodeth Teresa Makina Gil ‘Rodeth Gil’, João Luís Neto ‘Xietu’, António Fuamini da Costa Fernandes, António Paulo Cassoma, António dos Santos França ‘Ndalu’, Hermínio Joaquim Escórcio, Lopo Fortunato Ferreira do Nascimento, Maria Eugénia da Silva Neto, José Domingos Francisco Tuta ‘Ouro de Angola’, Albina Faria de Assis Pereira Africano, Ndombele Mbala Bernardo, Benigno Vieira Lopes ‘Ingo’, Engrácia Francisco Cabenha (Rainha do 4 de Fevereiro), Ismael Gaspar Martins, e os números 27, Brito Sozinho, e 28, Manuel Alexandre Rodrigues ‘Kito’.

José Eduardo dos Santos volta, pouco menos de 72 horas a ser notícia. No sábado, 11, o seu nome foi, finalmente, citado por João Lourenço, no discurso proferido no estádio 11 de Novembro, por ocasião das celebrações dos 65 anos de fundação do MPLA. Uma alusão que suscitou mais dúvidas do que certezas sobre o entendimento do seu conteúdo.

Para uns tratou-se de um elogio ao papel jogado por José Eduardo dos Santos ancorado no partido, enquanto, para outros, se tratou de uma tentativa de ‘desvalorização’ de todo o capital político que Eduardo dos Santos teve à frente do MPLA como timoneiro e não como parte da carroça puxada pelo partido dos ‘Camaradas’.

À boca pequena, atribui-se o tipo de tratamento que tem sido dado a José Eduardo dos Santos a uma vingança silenciosa, protagonizada no calor da ressaca revanchista que João Lourenço tomou a peito pelos maus bocados vividos, logo após este manifestar interesse em chegar ao poleiro, numa altura em que José Eduardo dos Santos ainda se via como um activo.

O pronunciamento de que já não iria prolongar a sua liderança à frente do país e do MPLA inspirou na altura João Lourenço a protagonizar um facto político que saltou à vista de toda a gente, até na de José Eduardo dos Santos, que logo a seguir ‘deu o dito por não dito’ e continuou Presidente até 2017, quando foi substituído por aquele que se dizia “preparado”. Terá João Lourenço partido em falso?

Outros ainda defendem que José Eduardo dos Santos fez o mesmo com a figura de Agostinho, quando chegou ao poder. Mas, são anotadas diferenças profundas em relação à actuação do actual líder dos ‘Camaradas’: José Eduardo manteve a imagem do “guia imortal”, ao passo que João Lourenço, sem que se conheça uma orientação oficial, desfez-se rapidamente da imagem de José Eduardo dos Santos na maior parte dos espaços onde têm de coabitar as lideranças do partido. O sumiço da esfinge de Eduardo dos Santos nas notas do kwanza é bem revelador.

Se a indicação do Secretariado do Bureau Político é o último lugar de ensaio e de destaque que cabe a José Eduardo dos Santos nas notícias, tudo se verá agora na corrida às eleições de 2022. Desta vez com uma grande diferença: João Lourenço caminhará sem a sombra de José Eduardo dos Santos ao seu lado, tal como aconteceu entre 2016 e 2017, tendo coabitado com este último até Setembro de 2018, quando o ex-Presidente da República foi obrigado a largar a liderança do partido, começando uma fase de quase supressão política.

Para a história ficam quatro penosos anos de um quase silêncio sepulcral que lhes foi dedicado pelo seu sucessor, em que João Lourenço tomou o sucedido como um activo tóxico. Destes quatro anos, pode-se colocar de parte dois, vividos ou experimentados em Espanha, numa espécie de um auto-isolamento político, ou talvez mesmo de um auto-exílio.

Neste período não se ouviu na imprensa um único telefonema de cortesia que tivesse sido tornado público ou tendo vindo parar em hasta pública em forma de boato ou mesmo de mera casualidade. A julgar como órgãos de comunicação social públicos viram o regresso de José Eduardo dos Santos ao país, talvez basta para que não nasçam mais ilusões sobre os laços que neste momento unem o presente e o passado recente da história da liderança do MPLA.

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