Isto É Notícia

Suposto quimbandeiro produz bebida tradicional que “detecta feitiço” e provoca a morte a mais de 50 pessoas no Bié

Partilhar conteúdo

Mais de 50 pessoas morreram, entre Janeiro e Fevereiro deste ano, na comuna da Muinha, no município de Camacupa, na província do Bié, após serem obrigadas a ingerir um líquido feito à base de ervas, denominada ‘mbulungo’, produzida por um suposto quimbadeiro (adivinho), produto esse que servia de alegada prova para se aferir se a pessoa é ou não inocente da acusação de feitiçaria.

A informação foi avançada pela administradora comunal da Muinha, Luzia Filemone, em declarações à Angop, adiantando que, neste momento, estão a ser desenvolvidas várias acções no terreno que visam desincentivar tais práticas, que estão a matar muitos munícipes.

A responsável contou que o ‘mbulungo’, como é conhecido, é um líquido venenoso que os quimbandeiros locais usam de forma recorrente, estando o ‘fenómeno’ a espalhar-se naquela região.

“É um veneno produzido por um suposto adivinho (quimbandeiro). O líquido é tóxico e é dado a uma pessoa que está a ser acusada da morte de alguém na aldeia”, relatou Luzia Filemone, acrescentando que “o suspeito é obrigado a beber o veneno e, se o efeito provocar a sua morte, então fica provada a acusação”.

Segundo a administradora, tudo acontece quando existe desavenças entre famílias, sobretudo quando morre uma pessoa na aldeia sob suspeição de feitiçaria.

“No sentido de comprovar a culpabilidade do crime, as pessoas vão até ao suposto quimbandeiro e muitos nem sempre voltam com vida, pois o veneno mata em poucas horas”, explicou.

A título de exemplo, Luzia Filemone referiu-se ao último episódio, ocorrido em Fevereiro deste ano, na Ombala de Tchonga, quando 12 pessoas foram obrigadas a beber o referido veneno. Três das quais não resistiram e acabaram por morrer poucas horas depois.

Por sua vez, o comandante municipal de Camacupa da Polícia Nacional, António Samba, disse que as pessoas são obrigadas a atravessar de canoa o rio para saírem das aldeias de Santo António da Muinha, em Camacupa, para a aldeia de Mbinga, no Cuemba, onde estão os quimbandeiros. Segundo aquele responsável, muitas destas pessoas já não regressam às suas casas.

Em declarações à Rádio Nacional de Angola, António Samba explicou que o número de vítimas mortais deste líquido foi subindo de 30 para mais de 50 pessoas.

Ainda de acordo com a administradora, o suposto produtor do veneno está identificado e será notificado para o devido esclarecimento e tratamento do assunto.

O recurso ao ‘mbulungo’ é registado em quase todo o território da comuna da Muinha, que controla 165 aldeias. Recentemente, o governador da província do Bié, Pereira Alfredo, que visitou a localidade, mostrou-se preocupado com o fenómeno, tendo avançado que se regista, igualmente, em algumas aldeias do município do Chitembo.

ISTO É NOTÍCIA

Artigos Relacionados