Isto É Notícia

“Nenhum angolano tem o direito de usar a dor alheia e o luto de famílias para aproveitamento e sobrevivência política”, reage ACJ às reportagens da TPA

Partilhar conteúdo

O presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, defendeu, nesta terça-feira, 5, que nenhum angolano está no direito de usar a dor e o luto das vítimas dos conflitos armados do país como ‘pedra de arremesso’ e/ou como meio de aproveitamento para a sua sobrevivência política.

O líder da oposição, que falava hoje em conferência de imprensa, em reacção aos últimos desenvolvimentos relativos à Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), criticou a forma como aquele órgão passou a ser objecto de uma alegada “manipulação” por parte do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE).

“Regista-se um silêncio ensurdecedor na CIVICOP. Vive-se um golpe de teatro, o coordenador foi substituído pelo chefe dos Serviços de Inteligência, que usa, abusivamente, o nome da CIVICOP. Urge repor a legalidade, devolver ao ministro da Justiça as suas responsabilidades de coordenador da CIVICOP”, afirmou Adalberto Costa Júnior, fazendo alusão às reportagens exibidas pela Televisão Pública de Angola (TPA) nas suas últimas semanas.

“O povo angolano está, nos últimos dez dias, confrontado com imagens divulgadas pela TPA, sobre buscas de sepulturas de angolanos perecidos nos conflitos políticos, em áreas outrora sob administração da UNITA, mas sem o conhecimento prévio das famílias e dos representantes da UNITA na CIVICOP, o que fere a metodologia de trabalho desta instituição, o espírito de reconciliação e as leis que regem o seu funcionamento”, referiu.

O presidente da UNITA defendeu ainda que a grande prioridade da CIVICOP devia ser as famílias das vítimas, que, na sua opinião, deviam “ter a oportunidade de prestar as homenagens apropriadas aos seus entes queridos, tudo no quadro do princípio nobre: abraçar e perdoar”.

“É nesta perspectiva que a UNITA rejeita instrumentalidades que minam os propósitos da CIVICOP e condena o sequestro da televisão pública pelos serviços de inteligência do regime do MPLA”, argumentou.

Para o líder da UNITA, a ‘estratégia’ do governo com a publicação das reportagens com as ossadas de ex-dirigentes da UNITA, incluindo a antiga mulher de Jonas Savimbi, é desencadear uma propaganda que visa capitalizar nomes sonantes vítimas dos conflitos armados para “ofuscar os largos milhares de anónimos sumariamente mortos e que jazem nas valas do Cacuaco, no bairro Chendovava, na Funda, no Cemitério do 14, no Camama”, além de “outras valas existentes em todas as províncias” do país.

“A UNITA propôs imensas vezes a criação em Angola de uma Comissão de Paz e Reconciliação capaz de debater os conflitos, de responsabilizar, de exigir desculpas aos actores dos conflitos, a todos eles, e de perdoar. Infelizmente, o governo e o partido que o sustenta nunca aceitou uma tal Comissão de Verdade e de Reconciliação Nacional”, reclamou Adalberto Costa Júnior, recomendando:

“As sepulturas devem ser preservadas, até terem terminado as operações de busca e identificação, com inteira cooperação das testemunhas relevantes, em que as famílias são parte fundamental. A exibição pública de ossadas, é condenável e, a todos os títulos, é uma profanação”.

O presidente da UNITA frisou ainda que o seu partido “defende, inequivocamente, que a CIVICOP retome o seu lugar neste processo”, exigindo, para o efeito, “que a CIVICOP tenha apenas um coordenador, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos; apenas um porta-voz, o ministro da Justiça e Direitos Humanos; as decisões devem ser tomadas em reuniões da CIVICOP, devidamente convocadas pelo seu coordenador; os grupos técnicos devem submeter-se à CIVICOP nos termos da legislação prevista e não agir à margem das decisões deste órgão”.

“O facto deste projecto de localização das ossadas dos dirigentes da UNITA, não ter obedecido a um calendário apropriado, decorrente de reuniões preparatórias, de acordo com os métodos de trabalho aprovados na CIVICOP, indicia que a referida comissão foi sequestrada e está hoje ao serviço de um gabinete cujos objectivos não vão de encontro aos definidos na sua criação, de privilegiar a reconciliação, abraçar e perdoar”, acusou.

ISTO É NOTÍCIA

Artigos Relacionados