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MPLA e executivo continuam a ser os ‘donos e senhores’ da imprensa pública: de Novembro último a Janeiro de 2024 ocuparam quase 80 e 50% dos espaços informativos

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Um estudo trimestral de monitorização da imprensa angolana referente ao período entre Novembro último e Janeiro deste ano, revela um domínio esmagador da agenda do governo e um controlo quase total dos media públicos por parte do MPLA, que ocuparam quase 50% e 80%, respectivamente, dos espaços informativos daqueles órgãos de comunicação social.

O relatório, elaborado pelo Movimento Cívico MUDEI — uma plataforma que congrega várias organizações da sociedade civil angolana e figuras individuais —, incide sobre matérias publicadas pelo Jornal de Angola (JA), Televisão Pública de Angola (TPA), Rádio Nacional de Angola (RNA), órgãos estatais, e a TV Zimbo, canal privado que passou para a esfera do Estado, e que já se encontra em processo de privatização.

Segundo o documento, a que este portal teve acesso, a agenda do governo ocupou 48,6% do espaço informativo destes órgãos, nomeadamente 63,8% das capas do JA, 48,6% no Telejornal da TPA, 35,5% no telejornal da TV Zimbo e 46,8% nos noticiários das 13h00 da RNA.

As notícias sobre sociedade, desporto e de âmbito internacional ocupam as posições sequentes.

Para além do espaço central concedido ao executivo, o estudo de monitorização da imprensa angolana também constatou uma ausência de sentido crítico ou de contraditório”, ou seja, “não são noticiadas quaisquer discordâncias ou erros da acção governativa”.

Em relação aos partidos políticos, o MPLA ocupou, no cômputo geral, 79,5% do espaço de antena monitorizado nos referidos órgãos —  TPA (88%), TV Zimbo (70%), JA (93%) e RNA (67%).

A UNITA, maior partido na oposição, absorveu no mesmo período apenas 13% do espaço noticioso, nomeadamente, 7% na TPA, 24% na TV Zimbo, 7% no Jornal de Angola e 14% na RNA.

“Em várias categorias (cultura, empresariado, sociedade civil e outras) nota-se uma tendência para se adoptar uma perspectiva de realce da presença e papel do executivo ou de organizações e indivíduos que lhe sejam próximos”, realça o relatório do MUDEI.

A ONG considera também ser “notável”, nesses órgãos, o limitado espaço e/ou omissão dada às organizações sindicais, movimentos reivindicativos ou a organizações da sociedade civil no decurso dos meses de Novembro e Dezembro de 2023 e Janeiro de 2024.

O trabalho de monitorização, que consistiu em observar (visualizar, escutar e medir) e classificar os principais noticiários da TPA, TV Zimbo e da RNA e as capas do JA, constatou que o Jornal de Angola e a TPA “destacaram-se no desequilíbrio de tratamento aos diferentes actores políticos”.

A análise conclui que as redacções dos referidos órgãos e a respectiva tutela revelam uma visão hegemónica no exercício do poder e do direito ao discurso público e salienta que os princípios básicos de jornalismo, como o direito ao contraditório, são “sistematicamente ignorados”.

“A linha editorial dos órgãos monitorizados — em especial do Jornal de Angola e da TPA — parecem mais a de um órgão de relações públicas do governo do que de um órgão de imprensa ao serviço do público, com o objectivo de o informar”, conclui o MUDEI.

O relatório analisou um total de 4 807 notícias, nomeadamente 590, do Jornal de Angola, 1 011, da Rádio Nacional de Angola, 1 689, da Televisão Pública de Angola, e 1 517, da TV Zimbo.

O MUDEI, que promete publicar regularmente relatórios trimestrais de monitorização, considerou ainda neste documento, datado de 30 de Maio, que a comunicação social é um dos pilares incontornáveis de um processo político aberto e plural.

O projecto MUDEI é uma iniciativa da ONG Handeka, em colaboração com outras organizações da sociedade civil angolana sem fins lucrativos.

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