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Sócrates responde a João Lourenço: “Não conheço o senhor Presidente, não faço parte do seu círculo de amigos”

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O ex-primeiro-ministro português José Sócrates reagiu, esta sexta-feira, 2, com desagrado, às declarações do Presidente João Lourenço, na entrevista conjunta que concedeu à Lusa e ao jornal Expresso, por compará-lo com a situação do ‘caso Manuel Vicente’, no âmbito da ‘Operação Fizz’, desencadeada na justiça de Portugal.

Em declarações exclusivas aos dois veículos de imprensa portugueses, o Presidente João Lourenço disse que “foram as autoridades judiciais portuguesas que entenderam levar à barra dos tribunais [portugueses] um governante daquela craveira”, referindo-se ao ‘caso Manuel Vicente’.

Razão pela qual, contextualizou o Presidente angolano, não estava “a imaginar Angola a ter a ousadia, por exemplo, de levar a tribunal um José Sócrates se, eventualmente, ele tivesse cometido algum crime em Angola”.

Entretanto, em reacção, o ex-primeiro-ministro português, que tem andado a braços com a justiça no seu país — tendo ficado detido preventivamente por dez meses, no âmbito da ‘Operação Marquês’ — já veio a terreiro dizer que não gostou das “comparações despropositadas” de João Lourenço e explicou porquê.

“As comparações despropositadas que o Presidente da República de Angola fez na entrevista ao jornal Expresso [e à Lusa] ofendem-me profundamente. Não conheço o senhor Presidente, não faço parte do seu círculo de amigos e lamento ter de lhe recordar que me é devido o mesmo respeito que sempre dispensei aos estadistas angolanos com os quais convivi”, declarou à Lusa José Sócrates.

O antigo chefe do governo português, que espera não ser “necessário voltar ao assunto”, foi ainda mencionado num segundo momento da entrevista quando João Lourenço, questionado sobre o empresário Álvaro Sobrinho, se referiu à ‘dualidade de critérios’ na Europa quando o assunto gravita em torno da corrupção.

“Na Europa, não é normal pedirem-se contas aos chefes de Estado sobre casos de corrupção, ninguém pergunta ao Presidente Marcelo sobre o caso Jose Sócrates. No entanto, às vezes entende-se que em África é diferente, particularmente em Angola”, sublinhou o estadista angolano.

João Lourenço voltou a comentar o caso judicial envolvendo o ex-Vice-Presidente angolano Manuel Vicente, exigindo respeito.

O processo, que foi remetido às autoridades angolanas pela justiça portuguesa, foi tratado na entrevista por João Lourenço como “um caso de soberania”, tendo o Presidente angolano referido que não tinha sido Angola a provocar aquilo que ficou conhecido como “irritante” entre os dois países.

“Felizmente, o desfecho foi bom (…) se tivesse demorado mais tempo talvez tivesse deixado mazelas, mas devo garantir que não deixou nenhumas”, frisou o Presidente angolano.

A Manuel Vicente foram imputados os crimes de corrupção activa, branqueamento de capitais e falsificação de documento, um processo que foi remetido em 2018 para Angola, mas que a Procuradoria-Geral da República (PGR) continua sem “mexer nenhuma palha” até agora, alegadamente devido à imunidade de que gozava o ex-Vice-Presidente da República.

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