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Rússia diz ter tomado Soledar depois da “Verdun do século XXI”

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A Rússia revelou ter tomado a cidade de Soledar esta sexta-feira, 13, uma localidade mineira que tem sido a prioridade das operações militares das últimas semanas no Donbass. As autoridades ucranianas negaram as informações de Moscovo e garantiram que as suas forças ainda estavam presentes na cidade, mas admitiram dificuldades.

O valor estratégico de Soledar, uma pequena cidade conhecida pelas minas de sal na província de Donetsk, tem sido alvo de muito debate, mas a sua centralidade nos combates das últimas semanas é inegável. Calcula-se que, para tomar esta localidade, as perdas em ambos os lados possam ser incontáveis. Os relatos que chegam do terreno descrevem um cenário totalmente arrasado, depois de semanas de bombardeamentos intensos e combates praticamente corpo a corpo pelas ruas.

O chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, Andrii Iermak, disse que em Soledar e em Bakhmut, outra cidade próxima, vive-se uma “Verdun do século XXI”, comparando os combates à Batalha de Verdun que decorreu na I Guerra Mundial e foi uma das mais sangrentas e duradouras. “Os combates duram há vários meses, mas os nossos soldados têm conseguido manter as suas posições”, afirmou Iermak, admitindo que a situação “é muito difícil”.

Esta sexta-feira, o Ministério da Defesa russo anunciou a tomada de Soledar, sublinhando o papel dos “bombardeamentos constantes do inimigo através de combates e aviação, mísseis e artilharia”. Mais tarde, o governo emitiu um segundo comunicado em que evidenciava as “acções corajosas e generosas dos voluntários” dos elementos do Grupo Wagner.

A referência deixa bem claras as divergências que têm surgido entre as forças regulares do Exército russo e as divisões do grupo de segurança privada que foi contratado recentemente para apoiar a invasão da Ucrânia. O líder do Wagner, Ievgeni Prigojin, denunciou as tentativas de “roubar a vitória” à sua empresa por parte do aparelho militar russo, que tem sido amplamente criticado pelas derrotas que tem averbado na Ucrânia.

Esta semana, Prigojin tinha divulgado uma fotografia em que aparecia ao lado de mercenários da Wagner no que dizia ser uma mina de sal em Soledar e anunciava a tomada da cidade feita em exclusivo pelos seus homens, mas Kiev negou a alegação e o Kremlin não a confirmou.

Importância simbólica

O governo ucraniano disse que a informação de que Soledar foi tomada esta sexta-feira “não é verdade”. “Ainda decorrem batalhas em Soledar”, afirmou o porta-voz da divisão de Leste do Exército, Serhii Cherevati.

No entanto, a CNN dizia que durante a tarde ainda era possível ouvir disparos de morteiros e avançava que as forças ucranianas estavam a organizar uma retirada. O governador de Donetsk, Pavlo Kirilenko, calculava na quinta-feira que permaneciam na cidade 559 civis, incluindo 15 crianças, que não tinham qualquer hipótese de ser retiradas a salvo.

“Pelo que sei, os nossos rapazes conseguiram abandonar algumas partes de forma ordeira e agora há grupos que estão a contra-atacar, mas ainda mantemos a cidade”, disse à Reuters um oficial ucraniano que está na região, sob anonimato.

O valor estratégico de Soledar é incerto. Moscovo apresenta a cidade como um ganho importante para que consiga cortar o fornecimento à cidade de Bakhmut, o próximo alvo da Rússia para conquistar a totalidade da província de Donetsk, um dos objectivos primordiais fixados pelo Kremlin.

No entanto, analistas de países aliados da Ucrânia têm manifestado dúvidas sobre o valor de uma cidade tão pequena para os cálculos da guerra. O Institute for the Study of War escrevia recentemente que a “importância de Soledar tem sido exagerada” pelos serviços de informação russos.

“Continuamos a avaliar que a captura de Soledar – uma localidade de dimensão inferior a nove quilómetros quadrados – não irá permitir que as forças russas exerçam controlo sobre as linhas de comunicação críticas ucranianas para Bakhmut, nem irá melhorar as posições das forças russas para cerca a cidade no curto prazo”, concluem os analistas do instituto.

Porém, a tomada de Soledar teria igualmente um forte carácter simbólico para Moscovo, que não consegue ganhos territoriais desde o início do Verão e, na verdade, até foi obrigada a recuar em pontos importantes, como em Kherson.

PÚBLICO

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