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“Ou João Lourenço perdeu a cabeça, ou tem uma agenda de hostilidade contra os angolanos”, acusa Rafael Marques em Lisboa

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O jornalista e activista angolano Rafael Marques acusou o executivo de João Lourenço de não ter aprendido, até hoje, a “reger-se pelo princípio básico de qualquer governo democrático: o de servir o povo”, estando cada vez mais “dependente do uso da força e da arrogância para manter o poder”.

Rafael Marques, que intervinha, nesta sexta-feira, 23, no III Congresso Internacional de Angolanística, em Lisboa, Portugal, disse que a chegada de João Lourenço ao poder, em Setembro de 2017, permitiu aos angolanos sonharem com uma Angola melhor, mas que estas expectativas acabaram todas frustradas pela nova realidade.

“O actual governo angolano, tal como nas longas décadas do regime de José Eduardo, continua a não se reger pelo princípio básico de qualquer governo democrático: servir o povo […] O Presidente João Lourenço está cada vez mais “dependente do uso da força e da arrogância para manter o poder”, acusou, acrescentando:

“Ou João Lourenço perdeu a cabeça, ou tem uma agenda de hostilidade contra os angolanos, fazendo das instituições do Estado meros expedientes pessoais”, opinou. .

Desmantelamento do Estado de direito

A nomeação e tomada de posse do agora juiz-conselheiro do Tribunal Supremo, Carlos Alberto Cavuquila, foi também objecto de reflexão do jornalista, que enquadrou tal facto nos exemplos de “desmantelamento do Estado de direito” promovido pelo regime liderado por João Lourenço.

Carlos Cavuquila foi condenado pelo Tribunal de Contas por desvio de fundos públicos e ainda tem um outro processo em andamento naquela corte. No entanto, nem isso impediu a sua nomeação e, por conseguinte, tomada de posse esta semana.

De “Messias” a “Judas”

Rafael Marques não tem dúvidas de que a ascensão de Cavuquila terá contado com o apoio do juiz presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, também ele alvo de várias denúncias por alegadas práticas de crimes de corrupção, peculato e nepotismo.

“Com a cobertura dos comportamentos prepotentes de Joel Leonardo, João Lourenço atravessou os limites do Estado de direito e transformou-se ele próprio numa ameaça”, considerou Rafael Marques, acusando o Presidente angolano de ter iludido o país com falsas promessas, o que, na sua opinião, teria levado a sociedade a transitar do sonho ao desespero, de tal modo que o “Messias” passou a “Judas” em cinco anos.

Em causa, afirmou o jornalista, estão os alicerces necessários à edificação de quatro pilares estruturantes para o futuro de Angola, que “vêm sendo sistematicamente destruídos”. E esses pilares, segundo Rafael Marques, são:

Uma liderança que promova e una o país e os cidadãos em torno do Estado-Nação; a estruturação do Estado de Direito; uma economia próspera; e uma matriz de educação, saúde e justiça que sirva todos os cidadãos.

“A desestruturação política, educativa e moral da sociedade gerou uma mentalidade em que a figura do bom pai de família não é distinta da do gatuno e em que não há separação entre Estado e governo, dever e obrigação, individual e colectivo”, criticou, salientando que a sociedade angolana,’ “na ausência de um sistema de valores colectivo tem procurado sempre um messias, que, na verdade, só existe na bíblia”.

Ao não cumprir o seu papel enquanto promotor desse processo social colectivo, continuou, João Lourenço abriu as portas à actual crise de liderança. “Só assim foi possível termos um Presidente que, em cinco anos, passou de suposto Messias a aparente Judas”, considerou.

*Com a Lusa 

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