“O ‘Luanda Leaks’ é uma construção do Presidente João Lourenço”, ataca Isabel dos Santos
O império de Isabel dos Santos ‘ruiu’ em Angola quando o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa) publicou o ‘caso Luanda Leaks’, uma mega-investigação jornalística que se dedicou a estudar o património e a forma como a empresária angolana chegou ao prestigiado estatuto de “mulher mais rica de África”.
Entretanto, depois de quatro anos sem falar de forma directa à imprensa, Isabel dos Santos, que tem sido acossada por acusações por alegada prática de vários crimes em Angola, decidiu desconstruir todo o novelo da investigação jornalística do ICJI, cujas motivações atribui a uma ‘agenda política’ do Presidente João Lourenço, a quem acusa de estar a persegui-la usando recursos jurídicos.
Na entrevista exclusiva que concedeu à CNN Portugal, emitida esta terça-feira, 29, também pela pela TVI, a empresária angolana admitiu não ter hoje dúvidas de que a reportagem do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação teria sido orquestrada pelo Estado angolano, mais concretamente pelo Presidente da República de Angola, garantindo, inclusive, ter provas do que diz.
“Quando o ‘Luanda Leaks’ acontece, eu disse: isso é muito estranho! Primeiro porque é uma história muito mal contada. 715 mil documentos? Quem lê 715 mil documentos? É impossível! E estes 715 mil documentos até hoje ninguém viu! Vimos 140 documentos no website. E quando se vai olhar para os 140 documentos do website, a maior parte destes documentos são completamente inócuos”, comentou a empresária, criticando, igualmente, a postura da imprensa no referido caso.
Para Isabel dos Santos, não há dúvidas de que os jornalistas têm hoje um papel importante, pelo facto de os media se terem transformado no quarto poder, mas, ao mesmo tempo — defendeu a empresária —, deve-se cobrar responsabilidade a quem vai informar, no sentido de fazê-lo com conhecimento daquilo que passa para o seu público-alvo.
“Pergunto: um jornalista que não fala português, que não conhece as leis angolanas, que não conhece as leis portuguesas… Se me disser que um jornalista sabe ler um contrato e, do ponto de vista jurídico, julgar se o contrato é legal ou ilegal, para mim seria uma surpresa. A não ser que o jornalista tivesse uma formação jurídica, que eu não sei, e não me parece que este fosse o caso”, atirou a empresária, ao referir-se à quantidade de documentos a que a investigação do Consórcio dizia ter tido acesso.
Isabel dos Santos, que voltou a acusar o executivo de João Lourenço de recorrer àquilo a que chamou de lawfare — quando se usa ou manipula as leis como um instrumento de combate a um opositor, desrespeitando os procedimentos legais e os direitos do indivíduo que se pretende eliminar — deixou algumas pistas do que afirma ter como provas ilegais apresentadas pelo governo angolano ao Ministério Público.
“Se o Estado tem provas contra um cidadão, porquê no meu caso do arresto civil, em Luanda, há oito documentos falsos? Porquê a PGR falsifica um passaporte, falsifica e-mails, que vêm de uma conta gmail e consulting, de um tal Mohamed que ninguém sabe quem é… Porquê a PGR apresenta como prova uma carta dos Serviços Secretos de Angola a testemunhar um encontro, uma reunião de trabalho minha que nunca aconteceu… em data, num sítio onde eu nunca estive?”, questionou a empresária, que não tem dúvidas de atribuir responsabilidades aos seus ‘algozes’.
“Quando um Estado se põe a fabricar elementos de provas contra um cidadão — o Estado não, porque quem fabricou foi a PGR; foi o procurador-geral que fabricou, ele é que fabrica as provas e ele é que apresenta as provas forjadas para conseguir o arresto das minhas empresas e das minhas acções —, se você é um Estado de boa-fé, vai forjar provas para arrestar património de um empresário?”, continuou.