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Morreu Ruy Mingas, um dos últimos ‘elefantes’ da música angolana

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Morreu, nesta quinta-feira, na cidade de Lisboa, em Portugal, vítima de doença, Ruy Mingas, um dos últimos nomes cimeiros de uma geração de cantores angolanos que não só fundou os alicerces de uma época, como ajudou a construir a estrutura formal e estética do que hoje se conhece como parte substancial do cancioneiro angolano.

Rui Alberto Vieira Dias Mingas, de seu nome completo, morreu aos 84 anos, depois de uma vida inteiramente dedicada à valorização e à divulgação de uma Angola que estava para além da música; uma Angola que a diáspora angolana e o mundo, principalmente falante da língua portuguesa, passou a conhecer também pela sua voz, pelas suas interpretações e pelas suas composições.

Co-autor do ‘Angola Avante’, o Hino Nacional de Angola, ao lado do poeta, escritor, político e advogado Manuel Rui Monteiro, Ruy Mingas é seguramente o artista angolano que mais soube interpretar e musicar poemas de autores angolanos, cujo conteúdo, essencialmente de engajamento cívico, cultural e político marcam ainda hoje gerações do país fundado há 48 anos.

‘Minha Terra, Minha Nossa’, da autoria de Filipe Zau, imortalizado na voz de Ruy Mingas, foi o tema ouvido a 4 de Abril de 2002, quando, no antigo Palácio dos Congressos, então Parlamento angolano, irmãos desavindos durante 27 anos punham fim a uma guerra civil fratricida. E foi ouvindo-o que se voltou a assinalar uma outra página importante do país, a seguir à independência, em 1975.

A obra de Ruy Mingas está intrinsecamente ligada à afirmação de um povo, a do povo angolano, da sua cultura, das suas raízes mais autênticas, mais africanas e mais voltadas para o conjunto de influências das nações que compõem o mosaico étnico-linguístico que campeiam o território nacional.

Ruy Mingas é também o artista cuja obra é quase, senão toda ela, preenchida por canções que rapidamente acabaram, e com todo o mérito, por se tornar verdadeiros clássicos da música popular urbana angolana. Não é também menos verdade que este mérito não se deve apenas à qualidade do texto ou do poema cantado, mas acima de tudo pela sua competência vocal, pela  distinta arrumação lírica da sua voz sempre cristalina.

Morreu um elefante, um gigante, uma voz monumental de um país cada vez mais sedento de artistas com a dimensão estética, intelectual e política de Ruy Mingas.

Que tenha morrido o autor e que tenha ficado a sua obra fica é óbvio que fica, porém, com a merecida vantagem de não ter precisado maturar com o tempo. Ruy Mingas viu o resultado do seu trabalho aclamado logo à raiz, e não é por acaso que, mais de 50 anos depois, a sua obra continue tão actual até para as novíssimas gerações.

Do seu parto oficinal, ficam como legados canções como ‘Cantiga por Luciana’, ‘Poema da farra’, ‘Makezu’, ‘Muadiakimi’, ‘Birin birin’, ‘Monagambé’, ‘Adeus à hora da partida’ e ‘Meninos do Huambo’.

O seu álbum ‘Memória’, lançado no ano de 2011, foi o último trabalho discográfico apresentado pelo artista.

Retalhos de uma biografia (publicado no portal Last.fm.)

Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas (12 de Maio de 1939) foi cantor, intérprete e compositor angolano. Foi ministro do Desporto e embaixador de Angola em Portugal. Foi praticante de atletismo, em salto em altura e 110m barreiras, no Benfica.

Participou no programa Zip-Zip. Aparece no primeiro disco do programa com a canção ‘Ixi Ami (Minha Terra)’. Gravou vários discos para a editora Zip-Zip.

É um dos autores da canção ‘Meninos do Huambo’, celebrizada em Portugal por Paulo de Carvalho.

É pai da cantora Katila Mingas, de Ângela Cristina Branco Lima Rodrigues Mingas, da modelo Nayma e de Carlos Filipe Branco Lima Rodrigues Mingas.

Ruy Mingas pertence a uma família de influentes músicos angolanos. De seu tio Liceu Vieira Dias recebeu o ritmo uma nova maneira de interpretar a música angolana. Ruy Mingas desenvolveu a sua sonoridade e influenciou outro grande músico angolano, por sinal seu irmão, André Mingas.

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