Moco diz que proposta de destituição de João Lourenço é “muito interessante e de grande alcance” político
O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino José Carlos Moco classificou, nesta sexta-feira, 21, como “muito interessante e de grande alcance” político a iniciativa de destituição do Presidente João Lourenço, tornada pública em conferência de imprensa, na última quarta-feira, 19, pelo Grupo Parlamentar da UNITA (GPU).
Em entrevista exclusiva à Lusa, o também antigo secretário-geral do MPLA justificou o seu comentário destacando o facto de a iniciativa da UNITA ter sido anunciada numa altura de, “pelo menos, sacudir a sociedade nacional e internacional, no sentido de alertar que o que se passa em Angola é muito grave”.
“Em termos políticos, não há dúvidas que é uma iniciativa muito interessante, pelo menos através desta atitude está a se a chamar a atenção a aspectos muito graves que se estão a passar no país por iniciativa do Presidente da República, João Lourenço”, começou por dizer Marcolino Moco.
Para o antigo governante, o Presidente João Lourenço “está a matar os mecanismos judiciais de forma acintosa”, fazendo-o à luz do dia e com “toda a gente a ver”. Um desses exemplos, apontou o político, são os despachos a autorizar a assinatura de contratos por ajuste directo, que, na sua opinião, estão a dar vazão ao surgimento de “um grande monopólio económico”.
Moco acusou ainda João Lourenço de, através destes despachos, estar “a puxar a brasa para toda a sua sardinha, em termos económicos, sem olhar para as consequências”.
“Estou a me referir ao grande monopólio económico que ele está a criar, está a empobrecer o país e a congelar o sangue do país: a moeda não circula, a fome, a indigência, o desemprego aumenta”, frisou.
A acusação do ex-secretário-geral do partido no poder é também extensiva a uma alegada perseguição de que João Lourenço estaria a promover, pela forma como está a “atirar-se” às empresas dos filhos do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
“Há toda uma série de questões que, de forma geral, são levantados pelo esboço da acusação da UNITA que, pelo menos, dão a sensação de que afinal a oposição tem a noção e está a levantar a situação da gravidade das questões que se passam no país na pessoa do Presidente João Lourenço”, referiu.
Marcolino Moco é político, advogado, escritor, poeta e docente universitário. Foi primeiro-ministro angolano de 2 de Dezembro de 1992 a 3 de Junho de 1996 e secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de 1996 a 2000.