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Militantes do MPLA no Cuito Cuanavale montam emboscada à caravana de deputados da UNITA e fazem um morto e quatro feridos

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Uma caravana da UNITA, na província do Kuando Kubango, composta por três deputados, um assessor e vários militantes, foi alvo, nesta sexta-feira, 12, de uma emboscada montada por alegados elementos ligados ao MPLA, na comuna do Longa, no município do Cuito Cuanavale. Um morto e quatro feridos é o saldo da acção que está a ser descrita como um acto brutal de intolerância política.

A delegação da UNITA, liderada pelos deputados à Assembleia Nacional João Muzaza, David Kisadila, Jeremias Abílio e o assessor Maurílio Luiele, chegou a Menongue na segunda-feira, 8, onde acabou por não ser recebida nem pelo governador provincial, nem tão-pouco pelos seus vices, quando pretenderam um encontro de cortesia com a mais alta entidade da província.

Na quarta-feira, 10, de acordo com informações avançadas pela delegação, começaram a surgir os primeiros sinais de intolerância política, quando cartazes foram deixados no Secretariado Provincial da UNITA com os seguintes dizeres: “A UNITA no Cuito Cuanavale só tem entrada e não terá saída”.

Nesta sexta-feira, os deputados do maior partido na oposição tinham na agenda de trabalho uma deslocação ao município do Cuito Cuanavale. A caminho, na comuna do Longa, enquanto os carros enfrentavam o desafio de escalar o cume de uma zona montanhosa, que antecede a região que anteriormente serviu para cultivo de arroz, nas proximidades do rio Longa, a caravana viu-se a braços com um súbito ataque de pedras protagonizado por populares.

Impossibilitados de recuar, por se encontrarem numa zona íngreme, a caravana foi obrigada a seguir marcha até ao cume da montanha, onde logo a seguir se depararam com uma barricada feita por crianças e senhoras trajadas com as cores do partido MPLA, e uma espécie de corpo de guarda, composto por efectivos da Polícia Nacional.

“Quando chegámos ao rio Longa, onde se fazia a plantação de arroz, na subida da montanha, onde tem as matas, começaram a atirar pedras nos carros, em grande quantidade. Os jovens que lá estavam montaram-nos uma emboscada. Como aquilo é uma montanha e uma subida, não sendo possível recuarmos, então fizemos o esforço de subir até ao cume”, explicou ao !STO É NOTÍCIA, via telefone, o deputado David Kisadila, uma das vítimas do ataque.

“Mal chegámos lá acima, encontrámos uma barreira do MPLA, feita com crianças e senhoras, com policiamento. Estava um intendente, dois sub-intendentes e mais outros polícias, que puseram cone na estrada. Logo que parámos, percebemos que o ambiente era de alguma agitação, e tudo isso sob olhar silencioso da polícia que nem se propôs a dispersar a população para podermos passar”, acrescentou.

David Kisadila contou que, após terem sido interpelados pela primeira barricada, viram-se no meio de uma tremenda confusão, e os jovens que se encontravam para lá da barricada começaram a jogar pedras aos integrantes da caravana.

“Atiravam-nos pedras e nós que levámos apenas escoltas — no meu caso, eu tinha apenas um escolta, que tinha uma pistola… Como a polícia não intervinha, tivemos de nos dispersar para nos proteger”, descreveu o deputado, salientando que o ataque culminou com a morte de um dos militantes da UNITA, que, por sinal, assumia determinada função no Secretariado Provincial do partido no Kuando Kubango.

Segundo David Kisadila, durante a fuga desenfreada dos membros da caravana, a vítima teria tropeçado e caído no chão, onde depois teria sido atingido com as várias pedras dos jovens enfurecidos.

“Tivemos de fugir até uns quatro quilómetros. Então, liguei para Luanda, já que o comandante e o governador provincial não atendiam os telemóveis. Consegui mais tarde abordar a segunda secretária provincial do MPLA na província, que é minha colega no Parlamento. Mandámos fotos a dar conta de que estávamos num ponto em que não podíamos nem avançar, nem recuar. E estávamos a ver como é que haveríamos de salvar os nossos militantes”, explicou Kisadila.

Depois de fugirem à primeira emboscada, acrescentou o parlamentar, uma segunda foi montada, já depois do rio Longa, mais ou menos depois de uns três a quatro quilómetros. Nesse segundo episódio, David Kisadila explicou que o seu carro, por exemplo, ficou completamente danificado, com os vidros laterais e frontal quebrados, assim como a chaparia, que ficou com um furo de bala de fogo.

O deputado da UNITA disse que, estando encurralados, decidiram traçar um plano A e um plano B. O plano A consistia em esperar a anuência das forças de defesa e segurança, que devia criar as condições para a evacuação — o que demorava a acontecer —, e/ou optar pelo plano B, que consistia em assumir riscos e fazer o caminho de volta a Menongue, arcando com as consequências. Prevaleceu o plano B.

“Conseguimos nos salvar e mais à frente vimos uma coluna da polícia, mas o pior já tinha acontecido. Já tínhamos deixado um morto e quatro feridos. Destes quatro feridos tivemos um idoso, dois senhores e uma senhora”, contou, resignado o deputado, frisando: “É esta a realidade. Portanto, todos os carros que levámos, cerca de nove, ficaram danificados. Vidros quebrados. Neste momento já saímos do perigo e estamos em Menongue para uma conferência de imprensa e vermos os passos seguintes perante esta intolerância”.

A ida da delegação da UNITA àquela parcela do território nacional deveu-se às ‘Jornadas nas Comunidades’, que os deputados do seu grupo parlamentar está a desenvolver nas 18 províncias durante sete dias.

Até ao fecho desta matéria, nem o MPLA nem a Polícia Nacional haviam ainda se pronunciado a respeito dos acontecimentos do Cuito Cuanavale.

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