Isabel dos Santos reage às declarações de Pitta Grós: “Sempre estive disponível pelos meus advogados”
A empresária angolana Isabel dos Santos reagiu esta quinta-feira, 10, às declarações à imprensa do procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, segundo as quais a antiga presidente do Conselho de Administração da Sonangol “já não terá oportunidade de ser interrogada para se defender” no caso em que é arguida, relacionado com o dossier ‘Luanda Leaks’.
Pitta Grós, que falava à margem da cerimónia de tomada de posse de 30 novos sub-procuradores da justiça, abordou o ‘processo Isabel dos Santos’, dando garantias de que o mesmo está “praticamente concluso”, havendo um atraso derivado do facto de a empresária “nunca ter sido ouvida, já que deveria ter sido interrogada na condição de arguida”.
Em resposta às declarações do procurador-geral da República, e através da rede social Twitter, Isabel dos Santos não se fez derrogada e veio a terreiro rebater as alegações do magistrado angolano.
“Sempre estive disponível e representada pelos meus advogados. Ao contrário da notícia, acredito que é do interesse de todos angolanos, e sobretudo do meu, esclarecer as inverdades que existem a meu respeito”, afirmou a empresária, assegurando que em altura alguma se negou a prestar esclarecimentos.
“Sempre estive disponível e continuo aqui disponível para repor a verdade. Acredito em Angola, sempre investi no meu país; criei empresas, empregos e formei pessoas. Eu amor Angola”, concluiu a empresária, no curto esclarecimento nas redes sociais.
Antes e em declarações à imprensa, Pitta Grós afirmou que à Isabel dos Santos já foram dadas “todas as oportunidades”, citando como exemplo as várias cartas rogatórias enviadas e que resultaram em autênticos fracassos para a PGR angolana.
A última destas cartas, lembrou o procurador-geral da República, foi solicitada aos Países Baixos. No entanto, salientou, Isabel dos Santos “escusou-se a colaborar” com as autoridades holandesas.
“Ela preferiu não o fazer e, portanto, vamos continuar com aquilo que a nossa lei processual penal prevê. A oportunidade já foi dada e ela negou-se a apresentar-se às autoridades. Por isso, não temos mais de dar outras oportunidades”, vincou Pitta Grós, quando questionado sobre os instrumentos a que poderá recorrer a justiça angolana a seguir.
Se a PGR vai ou não emitir um mandado de captura internacional, uma hipótese que Pitta Grós chegou a aventar em Maio deste ano, é uma decisão sobre a qual o procurador-geral da República não se quis debruçar, por se tratar de “uma questão processual que não deve ser divulgada”.
O caso ‘Luanda Leaks’
Isabel dos Santos e o falecido marido são acusados de engendrarem esquemas financeiros para desviar dinheiro do Estado angolano. O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou transacções suspeitas, incluindo um alegado desvio de 90 milhões de euros da Sonangol.
O ICIJ baseou a investigação ‘Luanda Leaks’ em 715 mil documentos. Contudo, Isabel dos Santos e Sindika Dokolo negaram qualquer envolvimento no caso, afirmando que os documentos revelados eram “falsos”. A empresária e o marido diziam-se ser alvos de um “ataque político” por parte do governo angolano.