EUA. Trump escreve história presidencial em dia “surreal”
Donald Trump tornou-se nesta terça-feira, 4, no primeiro ex-Presidente norte-americano a sentar-se perante um juiz que lhe leu um rol de 34 acusações de um processo-crime que o próprio, ao seu estilo, adjectivou com letras maiúsculas — “surreal”.
Tendo decorrido em sigilo, deste processo só era conhecida a sua ligação à actriz pornográfica Stormy Daniels, que alegadamente recebeu um suborno de 130 mil dólares em troca do seu silêncio para esconder um caso extra-conjugal com o magnata Republicano, quando este preparava a sua primeira candidatura à Casa Branca, em 2016.
Com o país em suspenso, e milhares de pessoas concentradas em torno do tribunal de Manhattan, por volta das 15h00 (hora local, 21h00 em Luanda) ficou a saber-se que eram 34 as acusações a pesar sobre o ex-Presidente, por alegadamente ter “orquestrado” uma série de pagamentos para encobrir três casos embaraçosos antes das presidenciais de 2016, adiantou hoje o procurador distrital.
O procurador Alvin Bragg detalhou em comunicado que os pagamentos a troco de silêncio foram feitos a um porteiro da Trump Tower, que alegou ter informações sobre um caso de paternidade extra-conjugal de Trump (recebeu 30 000 dólares), a uma mulher que se apresentou como ex-amante (150 000 dólares) e à actriz pornográfica Stormy Daniels.
Mas, desde a chegada de Trump ao tribunal nova-iorquino até ao seu regresso à Florida de avião — onde fará as suas primeiras declarações por volta das 8h15 locais, 2h15 de quarta-feira em Luanda — o que se passou neste dia que não só parou os Estados Unidos, como uma parte do mundo?
Perante as 34 acusações — relacionadas com diferentes tipos de “falsificação de registos comerciais” —, Trump declarou-se inocente, como os seus advogados haviam anunciado que faria.
A alegação de inocência por Trump foi feita durante uma breve sessão de cerca de 40 minutos no tribunal criminal de Manhattan, onde os procuradores revelaram a acusação do grande júri visando o ex-Presidente.
Trump deixou o tribunal sem qualquer medida de coacção, deixando para trás os seus advogados a prestar declarações à imprensa, pondo em causa os fundamentos do processo e prometendo pedir a sua anulação.
Do lado de fora do tribunal, alheios ao conteúdo das acusações, centenas de apoiantes do ex-Presidente Republicano gritavam a alta voz que Trump é “inocente” e que será eleito Presidente novamente em 2024.
Por mais que os opositores argumentassem que “ninguém está acima da lei” e que falsificar documentos é crime, para os apoiantes do magnata tudo não passa de uma “caça às bruxas”.
O ex-Presidente, que passou as horas antes de comparecer em tribunal a publicar mensagens através das redes sociais, divulgou uma mensagem já depois de entrar no tribunal, com as características letras maiúsculas.
“A caminho da baixa de Manhattan, do Tribunal. Parece tão surreal — uau, vão prender-me. Não posso acreditar que isto está a acontecer na América”, disse Trump, rematando a mensagem com a sigla “MAGA” (de ‘Make America Great Again’, ‘Tornar a América Novamente Grandiosa’), que usou nas suas campanhas eleitorais.
Mas ainda há mais…
O possível julgamento contra Trump pode começar em Janeiro de 2024, de acordo com o juiz Juan Merchan.
A defesa do ex-Presidente Republicano, que irá agora tentar a anulação da acusação, apontou para a primavera de 2024.
Os seus advogados pediram também que Trump seja dispensado de comparecer pessoalmente às audiências, devido aos procedimentos extraordinários de segurança.
Ainda assim, o magistrado Juan Merchan negou o pedido no momento, argumentando que todos os réus deveriam comparecer presencialmente, “mesmo réus de alto perfil”. O responsável afirmou, no entanto, que reconsideraria o pedido se fosse feito novamente no futuro, segundo a CNN.
E o que dizem os republicanos?
“O Presidente Trump continua a disparar nas sondagens e, assim como com a farsa da Rússia e os dois falsos impeachments, o Presidente Trump derrotará esta última caça às bruxas, derrotará Joe Biden e será empossado como Presidente dos Estados Unidos em janeiro de 2025″, disse a presidente do Partido Republicano da Câmara dos Representante, Elise Stefanik, uma importante aliada de Trump.
Também o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, acusou o procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, de tentar interferir nas eleições e afirmou que o Congresso norte-americano o responsabilizará por essa conduta.
“Alvin Bragg está a tentar interferir no nosso processo democrático ao invocar a lei federal para apresentar acusações politizadas contra o Presidente Trump, reconhecidamente usando fundos federais, ao mesmo tempo que argumenta que os representantes do povo no Congresso não têm jurisdição para investigar essa farsa. Bragg (…) será responsabilizado pelo Congresso”, escreveu McCarthy na rede social Twitter.
Donald Trump deverá comentar as acusações que enfrentará na conferência de imprensa na Florida.