EUA. FBI alerta para crimes de ódio em relatório muito criticado
Os crimes de ódio continuam a níveis muito elevados e a grande maioria foram motivados por questões étnicas. No entanto, há várias grandes cidades que não enviaram dados à polícia federal.
Um relatório divulgado na terça-feira pelo FBI, a polícia federal norte-americana, verificou um aumento exponencial no número de crimes de ódio registados pelas autoridades, relativos ao ano de 2021, mas os especialistas alertam que o número real poderá ser muito maior.
Foram registados em 2021 quase 7.300 crimes de ódio, o terceiro valor mais elevado da última década, com a grande maioria das vítimas a ser atacada por causa da sua etnia, seguidos dos ataques contra as pessoas pela sya orientação sexual e pela sua religião.
O relatório surge num ano em que os Estados Unidos foram o centro das atenções devido a alguns ataques centrados no ódio contra minorias étnicas ou de género.
Os dois principais eventos foram o tiroteio num supermercado em Buffalo e um ataque a uma discoteca gay em Colorado Springs — o primeiro expôs o crescimento de teorias de supremacia branca racistas, com o ataque especialmente direccionado a matar o maior número de pessoas negras possível; o segundo foi o clímax de uma onda de ódio e de propaganda anti-LGBTQ+ por meios e legisladores conservadores, que passaram o último ano a criar notícias falsas sobre pessoas e sobre alegados riscos na educação.
No entanto, há nuances para estes valores elevados de crimes de ódio. Segundo explica a Associated Press, algumas das maiores cidades do país, como Nova Iorque e Los Angeles, não providenciaram registos criminais ao FBI em 2021, devido a alterações no sistema. Algumas zonas na Flórida e na Califórnia (o estado mais populoso) também não o fizeram, pelo que fazer a comparação em termos estatísticos e definir estratégias para combater os crimes de ódio contra as minorias nos Estados Unidos torna-se mais complicado.
Em entrevista à Associated Press, o director da Liga de Anti-Difamação, Jonathan Greenblatt, afirmou que “os crimes de ódio rasgam o fabrico da nossa sociedade e traumatizam comunidades inteiras”. “O falhanço dos grandes estados e cidades por todo o país em reportar dados de crimes de ódio está a essencialmente, e inexplicavelmente, a apagar a experiência de comunidades marginalizadas”, acrescentou.
A própria Associated Press escreve que as grandes cidades são fulcrais para estas investigações, pois tendem a ter uma população mais diversificada e, por isso, são também as zonas onde estes crimes são mais recorrentes.
Numa recolha de dados mais alarmante, o Centro para o Estudo de Ódio e Extremismo, na Universidade de San Bernardino, na Califórnia, concluiu que houve um aumento de 21% nos registos de crimes de ódio registados entre 2020 e 2021, analisando 20 estados norte-americanos. E, acrescenta a Associated Press, os dados do relatório do FBI referem que menos de dois terços das 19 mil autoridades policiais entregaram dados sobre crimes de ódio, uma grande queda em comparação com os 80% do ano anterior.
A investigação da Universidade de San Bernardino também apontou que, em cidades com mais de um milhão de pessoas, os crimes de ódio aumentaram 39%, com o crescimento mais notório a verificar-se nos ataques contra as pessoas asiáticas.
As autoridades norte-americanas admitiram que houve uma contagem por defeito dos crimes de ódio no país, mas garantem que o novo sistema permitirá uma melhor investigação no ano seguinte.