CEAST receia que emboscada à caravana parlamentar da UNITA teve “instigação política” assente na lógica do ódio pós-conflito armado
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz, órgão afecto à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), considera que a emboscada a que foi alvo a caravana parlamentar da UNITA, na última sexta-feira, 12, no Kuando Kubango, “é a expressão de um processo de reconciliação frágil, onde ódios que decorrem da era bélica tendem a ressurgir”.
Num comunicado, datado de 14 de Abril de 2024, no qual recorda a sua “vocação de construtora de paz e como actora ao serviço da reconciliação e resolução de conflitos”, a CEAST afirma que, a confirmarem-se os seus receios de que existe por detrás daquela acção uma motivação política, “estaremos diante de uma paz frágil, sob ameaça de surtos repentinos de violência que podem perturbar o clima de tranquilidade já conquistado”.
“Por trás deste grave ataque sobressai a probabilidade de uma instigação política, que persiste na lógica do ódio aos seus antigos adversários, o que pode suscitar um clima perigoso para a paz que pensávamos estar a caminhar para bom porto, 22 anos depois do seu alcance”, refere o comunicado, acrescentando:
“O recurso a meios violentos para atingir certos fins, por mais nobres que sejam, são em si mesmos uma fraqueza, para quem os usa. Por isso, recomendamos o recurso ao diálogo e a outros mecanismos de concertação e meios legalmente previstos para se ultrapassarem diferendos de qualquer género entre grupos ou cidadãos”.
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz faz ainda um apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade, no sentido destes se absterem de fazer parte de quaisquer planos que visem atingir os seus adversários, tendo por base razões políticas ou outras.
O organismo da Igreja Católica lembra ainda que a história de Angola está repleta de eventos violentos, de tal sorte que “o recurso ao passado para justificar actos de retaliação sobre factos do passado de guerra contraria o princípio da sã convivência, onde acontecimentos que obedeceram à lógica da guerra perdem todo o seu sentido e contexto, nos dias que correm”.
“A Comissão de Justiça e Paz retoma os constantes apelos dos bispos da CEAST, que recomendam a maior cidadania ao invés dos partidarismos exacerbados”, recorda o comunicado, reforçando o apelo “às lideranças partidárias para a educação cívica dos seus membros para mais tolerância e a inculcarem na psique colectiva sementes de paz e de coabitação pacífica”.
As instituições da administração de justiça são também visadas pela organização religiosa, que insta estes organismos a exercerem de facto o seu papel, intervindo na resolução de conflitos, assim como os órgãos de segurança, de quem se espera que ofereçam aos cidadãos a segurança de que precisam, sempre que sentirem a sua integridade ameaçada.
Na sexta-feira passada, uma caravana parlamentar da UNITA, na qual seguiam três deputados e um assessor, caiu numa emboscada na comuna do Longa, no Kuando Kubango, quando se dirigia em direcção ao município Cuanavale. Várias pedras, paus e outros objectos contundentes foram lançados contra os militantes e veículos nos quais se faziam acompanhar.
A acção resultou em dez feridos, quatro dos quais com lesões graves, sendo que um destes feridos esteve durante largas horas inanimado, chegando-se mesmo a pensar que estivesse morto.
Na reacção aos factos, o Governo Provincial do Kuando Kubando e o Comando Provincial da Polícia Nacional local, que partilharam o mesmo comunicado, com pequenos acertos na arrumação do texto para diferenciar um do outro, alegaram que a delegação da UNITA não havia comunicado as autoridades da referida deslocação.
Em resposta, o Grupo Parlamentar da UNITA veio desmentir a posição do governo e da PN local, tornando público o documento (ver aqui) enviado aos órgãos de defesa e segurança no dia 10 de Abril, pelas 9h05, no qual davam nota da deslocação ao Cuito Cuanavale.