BP do MPLA assinala um ano da morte de JES com declaração que contraria a tese de ‘rei da ladroagem’ defendida na Holanda pela Sonangol
O Bureau Político do Comité Central do MPLA assinalou, neste sábado, 8, o primeiro aniversário da morte do seu presidente emérito e ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, com uma declaração, no mínimo, ‘conflituante’ com a posição assumida pelo seu governo num tribunal holandês, onde trava um ‘braço-de-ferro’ com a empresária Isabel dos Santos.
A última vez que José Eduardo dos Santos foi notícia em Angola — há pouco menos de uma semana — não o foi pelas melhores razões: a público foram revelados os argumentos de razão que o governo do MPLA, via petrolífera estatal Sonangol, apresentou às autoridades do Tribunal da Câmara de Comércio dos Países Baixos; fundamentos estes, diga-se, vexatórios à imagem e ao prestígio do ex-Presidente da República.
Ora, pouco menos de uma semana da referida revelação do conteúdo da defesa da estatal angolana, o Bureau Político — que não se pronunciou, na ocasião, em sentido contrário à tese de que JES governou um Estado cleptocrático, isto é, um Estado governado por ladrões — vem agora a público recordar a data da morte do seu presidente emérito “com incontida dor”, destacando “tudo quanto [José Eduardo dos Santos] fez pelo engrandecimento do partido e da nação”.
Ou seja, do dia para a noite, o BP do MPLA conseguiu resgatar a imagem de JES do ‘inferno’, elevando-o aos ‘céus’, ao decidir ‘passar uma borracha’ sobre toda a acusação proferida pelo governo angolano na Holanda — que achincalha e desprestigia o seu presidente emérito —, assinalando o seu grande legado: “a paz e a reconciliação nacional, enquanto actos que compaginam a maior obra do estadista José Eduardo dos Santos”.
“O Bureau Político do Comité Central do MPLA enaltece o valente empenho nacionalista e patriótico, bem como outras acções desenvolvidas pelo camarada José Eduardo dos Santos, que permitiram manter o MPLA no trilho dos ideais do manifesto da sua constituição, apesar das metamorfoses impostas pela dinâmica social no contexto local e internacional, bem como a firmeza na condução dos desígnios da República de Angola”, destacou o BP do MPLA.
O órgão do partido no poder referiu ainda na sua declaração que, “decorrido um ano, Angola e os angolanos continuam resignados pelo desaparecimento físico de um dos seus melhores filhos, cuja entrega incondicional à causa do povo e o amor à pátria elevaram-no à categoria de ser uma das individualidades de referência universal, detentor de irrefutáveis índices de verticalidade e dimensão humana”.
Por fim, o Bureau Político do MPLA apelou à sociedade angolana a transformar a data da morte de José Eduardo dos Santos “numa jornada de reflexão em torno dos objectivos almejados para a prossecução do bem-estar do povo angolano, imbuídos do espírito de que “o mais importante é resolver os problemas do povo”.
Em Agosto de 2020, numa resposta ao Tribunal dos Países Baixos, o governo angolano, por intermédio da Sonangol, desdobrou-se em explicações aturadas sobre a natureza do regime liderado por José Eduardo dos Santos, no sentido de convencer um juiz sobre a influência política do ex-Presidente da República exercida junto do mais importante activo da economia do país, a petrolífera estatal.
“O regime anterior de Angola era uma notória cleptocracia”, escreveu a Sonangol no documento, salientando que, “apesar do fluxo de biliões de dólares em riquezas de diamantes e petróleo, a maior parte da população não saiu da pobreza”.