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África do Sul. Fundação Mandela expressa tristeza pela morte de Buthelezi

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A Fundação Nelson Mandela expressou tristeza pela morte, na madrugada deste sábado, 9, do líder histórico do partido de Liberdade Inkatha (IFP), Mangosuthu Buthelezi, aos 95 anos.

“É com profunda tristeza que anuncio a morte do príncipe Mangosuthu Buthelezi, o Príncipe de KwaPhindangene, primeiro-ministro tradicional do rei e da nação Zulu, fundador e presidente emérito do Partido da Liberdade Inkatha”, declarou Ramaphosa num comunicado.

Ramaphosa saudou um “líder formidável que desempenhou um papel importante na história” da África do Sul durante sete décadas.

“O Príncipe Mangosuthu Buthelezi tem sido um líder notável na vida política e cultural da nossa nação, incluindo os altos e baixos da nossa luta de libertação, a transição que garantiu a nossa liberdade em 1994 e o nosso regime democrático”, salientou.

Magosuthu Buthelezi, que foi o ministro do Interior no governo de transição da África do Sul democrática, no mandato de Nelson Mandela, faleceu durante a madrugada de hoje, duas semanas depois de ter celebrado o seu 95.º aniversário.

Nascido no seio da família real Zulu, em Agosto de 1928, Mangosuthu Gatsha Buthelezi foi durante muitos anos a personificação do espírito orgulhoso e guerreiro do maior grupo étnico do país.

No momento do falecimento, o partido de Buthelezi recupera a popularidade que perdeu para o rival ANC no KwaZulu-Natal, a sua província natal, sudeste do país.

Buthelezi fundou o Partido da Liberdade Inkatha a pedido de Oliver Tambo, na altura líder de longa data do Congresso Nacional Africano (ANC), passando a ser acérrimo crítico do então movimento de libertação sul-africano.

Em Abril de 2021, o fundador e presidente emérito do Partido da Liberdade Inkatha afirmou, em entrevista exclusiva à Lusa, nunca ter existido uma verdadeira reconciliação com o partido no poder na África do Sul, com o qual, disse na altura, gostaria de fazer a paz.

Buthelezi, que iniciou a sua carreira política no Congresso Nacional Africano (ANC), sublinhou ter sido instado pelo então chefe de Estado da Zâmbia, Kenneth Kaunda, durante uma visita a Lusaka, a criar uma organização política na África do Sul que fosse “mais representativa dos sul-africanos negros” nas décadas de 1960 e 1970.

“Posteriormente falei com o meu líder, Oliver Tambo [o fundador do ANC], que me disse: ‘Por favor, avança’, e foi assim que criei o IFP, como uma frente do ANC, com base nos mesmos princípios de não-violência e negociações, da génese do ANC, em 1912”, frisou.

Todavia, a transição política na África do Sul, do regime de segregação racial do Apartheid para a democracia viria a ser caracterizada por exigências constitucionais e uma escalada de violência entre o ANC e o IFP, liderados respetivamente por Nelson Mandela e Mangosuthu Buthelezi, nas províncias do Natal (atual KwaZulu-Natal) e do Transvaal (atual Gauteng), nas negociações com o Governo sul-africano de minoria branca.

O IFP, que o Governo de Pretória reconhecia como sendo representativo da maioria negra no país quando legalizou o ANC, ameaçou também boicotar durante o processo negocial as primeiras eleições multi-partidárias e democráticas, de 26 a 28 de abril de 1994.

Após anos de violência étnica entre o ANC e o IFP nas províncias de Kwazulu-Natal e Gauteng, onde se situa Joanesburgo, o IFP disputou as primeiras eleições democráticas e integrou o primeiro governo pós-Apartheid do país.

As primeiras eleições democráticas da África do Sul, em 1994 – em que Mangosuthu Buthelezi obteve 10,5% dos votos, integrando o primeiro Governo de Unidade Nacional, liderado pelo Presidente Nelson Mandela, resultaram de quatro anos de negociações, iniciadas em 1990 com a legalização dos movimentos de libertação, nomeadamente o ANC, o Partido Comunista Sul-Africano (SACP) e o Congresso Pan-Africano (PAC) e um acordo negociado pelo então partido no poder, o Partido Nacionalista (NP).

Na altura, o líder zulu explicou à Lusa que em 2019 abordou o Presidente sul-africano e dirigente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), Cyril Ramaphosa, a quem lamentou que o partido no poder tenha sido injusto consigo, mas justificou que na altura não podia ceder o poder na região ao ANC.

Buthelezi referiu ter sublinhado ao chefe de Estado sul-africano que é preciso “fechar essa ferida”, lamentando que a covid-19 tenha interrompido estas conversações porque, disse, “o tempo está a passar”.

“Não compartilhamos a visão do ANC, isto é, a luta entre nós não acabou porque acho que não terei acordo, até na expropriação de terras temos grandes diferenças, então a luta continua”, frisou na altura Mangosuthu Buthelezi à Lusa.

Após 44 anos na liderança do partido, Buthelezi deixou o cargo de presidente do IFP em 2019, permanecendo como presidente emérito.

LUSA

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