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SIC abre investigação para apurar denúncia sobre rede de tráfico de drogas envolvendo altos responsáveis seus

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O Serviço de Investigação Criminal (SIC) deu início a um processo investigativo para apurar o envolvimento de altos responsáveis seus com o crime de tráfico de drogas em Angola. A informação foi avançada esta quinta-feira, 5, em comunicado, pelo porta-voz da instituição, superintendente-chefe de investigação criminal Manuel Halaiwa.

Em causa está uma denúncia anónima, por escrito, que está a circular nas redes sociais desde o dia 4 deste mês, a dar conta da alegada existência de uma rede de tráfico de drogas em Angola, envolvendo efectivos do SIC com largos anos na corporação, bem como supostos elementos ligados ao Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE).

A denúncia, que cita vários nomes, refere-se a supostos “elementos bem identificados”, que traficam droga para Angola, proveniente do Brasil, África do Sul e Moçambique, droga esta que depois é distribuída pelas 18 províncias, e, em particular, nas províncias litorâneas, onde o poder de compra dos seus ‘consumidores’ é maior.

Em Luanda, a ‘denúncia anónima’ aponta como primeiro nome o do próprio director da instituição de investigação criminal, comissário Fernando Manuel Bambi Receado, como sendo a alegada figura “que comanda uma grande rede de operativos do SIC que fazem o trabalho de baixa visibilidade, controlo das bocas de venda e de consumo”.

Fernando Receado é acusado de, supostamente, proteger várias pessoas que actuam como “vendedores e distribuidores”. Dos nomes avançados, destacam-se efectivos do SIC, traficantes e membros da gang urbana, conhecida como HDA, com a particularidade da maior parte deles serem, ao mesmo tempo, informantes do SIC.

Os nomes de uma ‘denúncia anónima’

Da lista de alegados “vendedores e distribuidores”, supostamente às ordens do director do SIC Luanda, comissário Fernando Receado, constam:

Pablo Ouro, tido pela denúncia como traficante, líder da gang HDA e informante do SIC; Luís Ramalho, conhecido como ‘Melaço’, que é apontado como traficante e informante do SIC; Man Gena, membro do grupo HDA, tido como traficante, agiota e informante do SIC.

Este último, em companhia da sua esposa e dos filhos, recorreu, na semana passada, à embaixada do Reino Unido em Luanda, em busca de socorro, alegando estar a ser vítima de ameaças de morte por alegados elementos do SIC envolvidos com o tráfico de drogas.

Num vídeo publicado esta quinta-feira, 5, Man Gena surge ao pé de um dos seus filhos, a mandar recados a Pablo Ouro, um dos nomes da denúncia, mas já fora de Angola, num país que o mesmo não diz qual.

Entretanto, a lista é longa e segue apontando também o nome de Nelson Maravilhoso, tido como traficante e informante do SIC; Paco Rabanne, tido como traficante e também informante do SIC; Manucho, membro da gang HDA, rotulado como traficante e informante do SIC; Sílvio Fernandes, referido como “altamente perigoso” e agente do SIC Luanda; Luís, igualmente rotulado como sendo “altamente perigoso e agente do SIC Luanda”.

Outros nomes avançados são os de Buda, apontado como traficante e informante do SIC; Russinho, também indicado como traficante e informante do SIC; Mateus, referenciado como sendo “altamente perigoso” e agente do SIC Luanda; Mano Vacola, descrito como “assaltante de condomínios” e informante do SIC.

SIC diz que Luanda tem servido de “ponto trânsito”

Na nota tornada pública esta quinta-feira, o SIC adianta ter espoletado “de imediato o competente processo investigativo, para o apuramento da veracidade das informações e tomar as medidas que se impõem”.

O órgão de investigação criminal refere, na nota, estar fortemente empenhado no combate ao tráfico de droga em toda a extensão do território nacional, com particular interesse nas zonas fronteiriças, onde, em coordenação com outros órgãos de defesa e Segurança, têm produzido resultados operativos satisfatórios, que culminaram inclusive com a apreensão de avultadas quantidades de drogas, principalmente do tipo cocaína, no Porto e Aeroporto Internacional de Luanda.

Segundo o SIC, a capital do país tem sido utilizada pelos traficantes como um ponto de trânsito, facto que tem resultado na detenção de vários intermediários (as chamadas mulas), os seus mandantes e os demais implicados na cadeia de tráfico.

Pela sua especificidade e complexidade, e dado o facto de “haver um combate cerrado ao tráfico de drogas no país”, o SIC admite que “tem tocado vários extractos e sensibilidades do tecido social, que a todo o custo tentam resistir às acções de enfrentamento, criando falsas e caluniosas informações, no sentido de fazer prevalecer o seu império criminoso”.

“O SIC está aberto à colaboração de todos na denúncia ou prestação de informações sobre o tráfico de drogas, assim como de outros tipos de crimes, sendo, pois, a segurança pública, uma responsabilidade de todos e de cada um de nós, pelo que garante todo o seu empenho e dedicação no esclarecimento destes factos”, salienta o órgão de investigação criminal na nota.

Luanda e Kilamba no epicentro tráfico

A partir da mesma denúncia anónima, a zona de maior distribuição e venda de droga na capital do país é o município de Luanda e a Centralidade do Kilamba, devido ao poder de compra de quem ali reside.

“Mas, é em Manuel Cadete Bezerra, mais conhecido por ‘Mickey Mouse’ que Receado confia, por ser uma pessoa com dupla personalidade. Bezerra, operativo do SIC Luanda, hoje em comissão de serviço na Inspeção Geral da Administração do Estado (IGAE), actuamente faz trabalho administrativo, é bem-parecido, na faixa dos 40 anos. Usa uma imagem de óptima pessoa, mulherengo, com condição social estável, resumindo uma pessoa de respeito para fugir das atenções, mas tudo não passa de uma grande fachada”, lê-se na denúncia anónima.

Bezerra é também descrito como “um homem frio, calculista que não vê os meios para atingir os seus objectivos”. “Comanda directamente as operações de baixa visibilidade, protecção e cobranças de dinheiro, fruto do tráfico, inclusive supervisiona pessoalmente as mortes por encomenda ligadas ou não ao tráfico”, acrescenta a denúncia.

A Manuel Bezerra ‘Mickey Mouse’ é também atribuída a suposta “missão de informar o director do SIC Luanda de todos os casos existentes na IGAE [Inspecção Geral da Administração do Estado], envolvendo altas patentes da polícia, das FAA [Forças Armadas Angolanas], membros do governo, que depois são abordadas por pessoas da confiança do [comissário Fernando] Receado, no sentido de extorquir dinheiro para alterar dados ou eliminar processos que se encontrem em instrução na IGAE”.

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