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Pai do jovem morto na Via Expressa diz que polícia está a mentir e que o filho foi atingido à queima-roupa na cabeça

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O pai do jovem de 28 anos de idade, morto no último domingo, 23, por um agente da ordem pública, próximo da Via Expressa, acusa a Polícia Nacional (PN) de “estar a mentir” em relação às circunstâncias que resultaram na morte do seu filho, contrariando a versão oficial das forças de defesa e segurança, que atribui o “fatídico episódio” a um disparo acidental, que teria atingido vítima em ricochete.

Em declarações ao !STO É NOTÍCIA, o pai da vítima, Victor André Marrula, desmentiu de forma categórica a versão policial, segundo a qual a morte do jovem Francisco Victor Monteiro, pedreiro de profissão e cobrador de ocupação, teria resultado na sequência de uma rixa entre dois moto-taxistas, após desentendimento na via pública.

O porta-voz da Polícia Nacional, Nestor Goubel, horas depois dos tumultos que inviabilizaram a circulação rodoviária na avenida Fidel Castro, mais conhecida por Via Expressa, disse à imprensa que dois agentes tinham sido chamados a acudir uma briga entre moto-taxistas, mas estes teriam ignorado os apelos dos polícias. Para conter a ímpeto populacional, foram feitos disparados, tendo um deles atingido o jovem Francisco Victor Monteiro em ricochete.

Entretanto, o pai da vítima, residente no bairro Mutamba, distrito urbano da Vila Flor, tem uma versão diametralmente oposta a que tem sido contada pela PN.

“A história correcta é a seguinte: os dois irmãos, meus filhos, vinham de uma apresentação familiar e cada um deles pegou uma motorizada. O irmão mais velho seguia à frente e o mais novo atrás. Apareceu um motoqueiro, que é um suposto soba do Mukula Angola, que roça na perna do meu filho, que disse: “O senhor me roçou na perna e não pede desculpas?” O senhor não admitindo deu uma chapada na cara do meu filho. O meu filho também não admitiu e devolveu a chapada. Deu-se uma confusão, mas a população que vende à entrada do bairro acudiu. O soba foi chamar a polícia”, começou por narrar o pai da vítima, indignado com o enredo que os órgãos de defesa e segurança passaram para a esfera pública.

“Quando a polícia veio, um deles, sem investigar o porquê da luta, fez logo dois tiros no chão. O meu filho esquivou as pernas e, mesmo assim, o polícia lhe deu depois dois pontapés no peito. Como o meu filho não queria ir à esquadra, o outro colega da polícia ainda disse: “colega , não age desta maneira”. Mas ele foi teimoso. Tirou a pistola e fez um tiro na cabeça do meu filho. A bala ainda lá está. Foi isso que aconteceu. O irmão mais velho acompanhou o irmão menor a perder a vida”, lamentou Victor André Marrula.

O pai da vítima não esconde a indignação da família, sobretudo na manhã desta segunda-feira, quando ouviram o porta-voz da Polícia Nacional, Nestor Goubel, a afirmar que o agente fez os disparos, mas uma bala das balas fez ricochete tendo atingido o jovem de 28 anos. “Isto é tudo mentira. Isto não corresponde à verdade”, insistiu.

“Eu estive ontem com o comandante da polícia da Engevia, que me disse: ‘meu irmão, eu também estou sentido com a morte do teu filho, porque a vida já não tem retorno, mas tudo isso que aconteceu nós também estamos sentidos’”, explicou Victor André Marrula, para de seguida negar qualquer envolvimento da sua família nos tumultos que ocorreram logo a seguir à morte do filho.

“Quando a minha família estava lá na esquadra a querer fazer confusão, porque queriam o polícia que matou o meu filho… a polícia não permitiu isso e eu próprio comecei a apaziguar a situação”, contextualizou, insistindo:

“Foi a população no local do sucedido que começou a queimar pneus e a fazer barricadas. Nessa altura, nem eu, nem o comandante da Engevia, sabíamos do que estava a acontecer. Foi a população do bairro que já está frustrada com as mortes provocada pela polícia que começou a queimar os pneus e a vandalizar o autocarro e foram queimar também a esquadra móvel. Não foi a minha família, porque a minha família estava comigo na esquadra”.

A morte do jovem que deixou uma noiva grávida de um mês, e a apresentação à família da noiva marcada para Março deste ano, voltou a fazer soar o alarme de insegurança na via pública, uma vez que foram destruídos bens patrimoniais públicos e privados. Um autocarro articulado da série “Luanda Express” foi vandalizado.

Entre os detidos estão quatro membros da família do senhor Victor André Marrula, apresentados pela Polícia Nacional como os presumíveis autores das cenas de vandalismo; uma outra versão que o pai da vítima nega de forma peremptória.

“Os quatro elementos da família que estão detidos estão a ser acusados de terem sido eles a vandalizar a esquadra móvel e o autocarro. É isto que eu estou a dizer que é má-fé do comandante polícia da Engevia”, acusa Victor Marrula, repudiando a detenção e a forma como a polícia está a lidar com este assunto das detenções.

De acordo com as explicações apresentadas pelo vai de Francisco Victor Monteiro, os seus familiares, quando foram presos, estavam na esquadra com ele a reclamarem a morte do irmão. Eles diziam: ‘já que mataram o nosso irmão, podem também nos matar a nós’. Diante disso, o comandante diz: ‘Prendam todos esses indivíduos que estão aqui’. Foi assim que prenderam os meus sobrinhos. Eles não estavam no terreno [do tumulto]. Eles já se encontravam na esquadra da Engevia”, reforçou.

Victor André Marrula, que no dia do ocorrido abriu uma participação criminal por causa da morte do filho, lamentou o facto de a polícia só ter reagido à situação da morte do seu filho após ter feito declarações à imprensa.

O pai da vítima contou que, nesta segunda-feira, 24, após abordar o assunto com a Rádio Despertar, com a Rádio Ecclesia e depois com a TV Zimbo, recebeu um telefonema do chefe de Apoio Social da Polícia Nacional, que lhe pediu que se deslocasse até à esquadra da Engevia, onde recebeu garantias de que as forças de defesa e segurança assumiriam as despesas do óbito, mas apenas os gastos relacionados com a urna, a agência e o cenário.

Em relação aos mantimentos, Victor Marrula disse que lhe foi informado que, neste momento, o stock da Polícia Nacional está vazio. E que ainda não havia uma data prevista para o funeral. Foi-lhes informado que depois de ser tratado toda a documentação, eles a PN havia de informar à família o dia do funeral. Enquanto isso, o corpo do jovem Francisco Victor Monteiro aguardaria na Morgue do Maria Pia, onde foi depositado pela família, no domingo.

Antes mesmo de falar à imprensa, Victor Marrula contou ao !STO É NOTÍCIA que havia questionado o comandante da polícia da Engevia sobre a responsabilidade com as despesas do óbito.

“O comandante respondeu que tinha de ser a própria família do falecido a assumir esses gastos, mas que tínhamos de guardar todas as facturas para serem presentes no dia do julgamento. Que o tribunal vai mandar o cidadão [isto é, o agente que efectuou o disparo] indemnizar a família enlutada. Nós ficámos indignados”, admitiu.

*Autoria Adelino Kamongua e Nok Nogueira

*Fotos Ilustrativas (Sem qualquer relação com o sucedido)

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