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Maria Luísa Abrantes diz que parceria estratégica EUA-Angola está condicionada ao esclarecimento do desaparecimento de dinheiros da Sonangol

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A ex-presidente do Conselho de Administração da antiga Agência Nacional para o Investimento Privado  (ANIP) Maria Luísa Abrantes considera que uma parceria estratégica entre Angola e os Estados Unidos da América (EUA) só será possível quando o governo angolano conseguir dar “respostas convincentes” ao Senado americano sobre o desaparecimento de dinheiros da petrolífera angolana e sobre “transferências bancárias pouco transparentes” feitas para aquele país.

“A parceira estratégica com Angola só será realidade quando o Congresso americano aprovar um acordo comercial entre ambos países; o que não será tarefa fácil, porque, até hoje, não foram dadas respostas convincentes ao Senado sobre o desaparecimento de dinheiros da Sonangol e sobre transferências pouco transparentes efectuadas pelo BAI [Banco Angolano de Investimentos]”, sublinhou a especialista em direito económico e financeiro.

A também jurista e consultora internacional, que também actuou como representante da ANIP na maior economia do mundo, fez tais declarações num artigo de opinião, publicado no portal Kesongo, por ocasião do dia 20 de Maio, data que marca os 30 anos de relações diplomáticas entre Angola e os EUA.

Maria Luísa Abrantes — que criticou a forma como os lobbies nos EUA se “fartam de ganhar dinheiro” à custa de Angola, quando “os contribuintes angolanos continuam com uma mão cheia de nada” como resultado deste investimento — atribuiu o fracasso do lobby angolano naquelas paragens às más escolhas da sua diplomacia.

“O problema é que têm enviado para aquele país ‘diplomatas’ com muito pouca experiência e fraca qualidade. Bastará apenas ser da Segurança de Estado ou ter a confiança desse serviço? Reitero que só necessidades económicas/financeiras prementes dariam visibilidade a qualquer diplomata medíocre creditado em Washington, D.C. e, possivelmente, levariam mais depressa o Presidente angolano à Casa Branca, onde, sem ser chefe de missão, tive o privilégio de entrar mais de uma vez, quer em Administrações democratas, como republicanas”, frisou.

A antiga representante da ANIP nos EUA disse, por outro lado, que existe igualmente uma má interpretação sobre como funcionam as relações diplomáticas nos e com os EUA, já que são “as relações económicas que influenciam as relações políticas e não o oposto”.

“Com o conhecimento dessa premissa, talvez a carência de petróleo e gás, devido ao prolongamento da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, possa acelerar o tão almejado encontro entre os Presidentes Biden e João Lourenço”, sustentou.

Ainda sobre a sua experiência nos EUA, Maria Luísa Abrantes contou como conseguiu materializar alguns ‘feitos’ em nome do Estado angolano, como foi, por exemplo, o de “abrir a porta de saída do financiamento dos Estados Unidos para Angola”, que, segundo contou, “até à Administração Obama, havia uma proibição total imposta a todas as instituições financeiras americanas públicas e privadas, de concederem financiamentos para Angola e/ou para empresários americanos investirem em Angola”.

“A minha missão foi cumprida e os dois objectivos foram alcançados. Ainda antes da abertura total da porta, consegui abrir uma janela para desbloquear os financiamentos do Exim Bank para o aproveitamento de gás em Cabinda e para aquisição de aviões Boeing. E se alguém quiser saber como, pergunte que eu explico”, disse.

No entanto, a especialista apontou também ‘entraves sistémicos internos’ que, se não existissem, teriam permitido uma melhor articulação com os EUA, como foi o caso da Câmara de Comércio EUA-Angola (AMCHAM Angola), que se gabou de ter proposto a sua criação à US/AFRICA Business Center, tendo na altura — actuando como empresária do sector privado — fundado a referida câmara, convidando Pedro Godinho para a presidir.

“Afinal, a US/AFRICA Business Center e a AMCHAM provaram ter feito um excelente trabalho, levando por três vezes o Presidente da República, João Lourenço, a encontrar-se com empresários americanos, num dos quais sob os auspícios do Presidente Joe Biden”, comentou.

Segundo Maria Luísa Abrantes, foi no âmbito do esforço da AMCHAM que se chegou a assinar um contrato de financiamento na área energética. Porém, acrescentou, já haviam sido “celebrados outros protocolos, que, para serem implementados, necessitariam do engajamento de duas partes e não apenas de uma delas”.

“Para agravar a situação, como se já não bastasse a falta de água, de luz de estradas sem buracos, de saneamento básico, os assessores do Presidente confirmaram, através da comunicação social em horário nobre, que a corrupção era uma realidade até nos tribunais superiores e, afinal, uma constante”, assinalou.

Por estes motivos, rematou a especialista, “chegámos ao dia 20 de Maio de 2023 e o tão propalado encontro entre o Presidente João Lourenço com o Presidente Biden, previsto para Abril/Maio, ainda não aconteceu”.

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