Investigadora da Universidade de Oxford alerta: Próximas eleições angolanas deverão ser “as menos transparentes e credíveis” de sempre
“Tudo indica que estas eleições serão as menos transparentes e credíveis de todas”. O alerta está a ser lançado pela investigadora da Universidade de Oxford, Paula Roque, que diz temer pelo que possa vir a acontecer no país após a realização do acto eleitoral, agendado para o dia 24 de Agosto próximo.
A investigadora é uma das oradoras na sessão de abertura do II Congresso Internacional de Angolanística, que está a decorrer esta terça-feira, 21, em Lisboa, por iniciativa da Rede de Investigação Científica de Angola (Angola Research Network). Evento que está a ser seguido de perto pela agência Lusa, que avança a matéria.
Paula Roque justifica os seus receios em relação às próximas eleições com o facto de, para além do que já existiu em anteriores pleitos, destas virem a ser “mais competitivas”.
“Não teremos contagem municipal, nem provincial, apenas a nacional”, pelo que “não haverá centros de escrutínio” nesses locais, explicou a investigadora, frisando que “todas as actas eleitorais serão enviadas para Luanda para serem somadas”, agravado ao facto de quem vai fazer “o transporte das urnas serão entidades ligadas à Presidência e ao aparelho de segurança”.
Apesar das ligações a um dos contendores — Paula Roque é filha do empresário Horácio Roque, já falecido, e de Fátima Roque, antigo quadro da UNITA — a investigadora de Oxford disse à Lusa, já à margem do evento, que “não tem nada a ver com aquele ou com outro partido em Angola, e que as suas afirmações resultam de um trabalho de investigação independente”.
A investigadora salientou ainda o facto de haver áreas inacessíveis, nas quais o transporte das actas eleitorais serão feitas por helicópteros da Força Aérea Nacional (FAN).
“Poderá não haver actas eleitorais verificadas pela oposição e observadores independentes para verificar a transparência e independência da contagem”, acrescentou, deixando no ar algumas questões:
“Poderão a oposição e a sociedade civil ter os 50 mil representantes necessários para estarem presentes em todas as assembleias de voto?”
Questões às quais Paula Roque decidiu responder: “Provavelmente não. Poderá assim haver uma manipulação de resultados, com pouca hipótese de provar o contrário”.
O dia seguinte às eleições
Todo este cenário que alimenta as suspeições a nível da credibilidade e da transparência do processo eleitoral leva a que a investigadora de Oxford levante preocupações com o que poderá vir a ter lugar em Angola logo a seguir às eleições.
“Neste contexto, preocupa-me muito o dia depois das eleições em Angola. O dia 25 de Agosto (…). Quando os resultados começarem a sair, o clima de tensão será palpável. Haverá uma necessidade de liderança para garantir que não haja violência política”, considerou, acrescentou:
“A estabilidade de Angola terá de ser mantida, mas não se poderá sacrificar a vontade da população pela alternância [política], nem os ganhos democráticos já feitos” pelo país.
*Com a Lusa