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Governo mandou suspender participação de Angola nas actividades do ‘Dia de África’ por conta da presença entre os convidados de Luzia Moniz, uma voz crítica a João Lourenço

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O governo angolano orientou, no mês passado, a sua missão diplomática em Portugal a suspender a participação do país nas festividades do ‘Dia de África’, comemorado a 25 de Maio, por conta da presença, entre os convidados, da jornalista e socióloga angolana Luzia Moniz, a quem acusa de promover um alegado “activismo contra a figura do Presidente João Lourenço”.

A revelação, que só agora é tornada pública, consta da ‘Nota Verbal n.°218/EMB.ANG.PT-SP01/24’, datada de 27 de Maio de 2024, na qual a Embaixada de Angola em Portugal notifica todas as missões diplomáticas do grupo africano acreditadas na República Portuguesa da decisão de se auto-excluir das festividades do dia do continente berço.

No documento, a Embaixada da República de Angola em Portugal reforça a sua posição de rejeição contra a “cidadã luso-angolana que faz activismo contra a mais alta magistratura e governo da República de Angola, legitimamente eleito, cujos artigos são públicos”  — uma decisão que já havia sido exposta e defendida numa reunião, ocorrida a 20 de Março do corrente ano, na Embaixada da República da Guiné Equatorial, na qual participaram outros embaixadores.

Tendo constatado que, até 17 de Maio, o nome de Luzia Moniz se mantinha na lista de convidados confirmados, a missão diplomática angolana em Portugal alegou violação “do princípio de promoção de Unidade, Solidariedade e Coesão entre os Estados, previsto no Acto Constitutivo da União Africana”, para tomar uma posição radical:

“Por orientação da Capital, a Embaixada de Angola não participará na Cerimónia Oficial da celebração do Dia de África que se realizará no dia 29 de Maio do ano em curso, no Lisbon Marriot Hotel”.

Luzia Moniz, de 62 anos, além de jornalista e socióloga, é também activista interseccional, defensora da “democracia como alavanca para o combate às desigualdades políticas, económicas e sociais”.

É co-fundadora da Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana,  (PADEMA), uma organização da Diáspora Africana em Portugal, centrada na Mulher Africana diaspórica, nos seus valores culturais e identitários com vista à sua afirmação na sociedade.

Enquanto jornalista, Luzia Moniz liderou, durante cinco anos, a editoria de África da Agência Angola Press (ANGOP), antes de ser transferida, em 1989, para Portugal como delegada da mesma agência.

Sobre a jornalista e a sua obra ‘Silenciocracia, Jornabófias e Outras Mazelas’ (edição da Perfil Criativo Edições), lançada em 2022, o académico Jean-Michel Mabeko Tali escreveu no prefácio: “[Luzia Moniz é frontal, escreve como fala: de olhos bem abertos e acesos, e olhando bem direitinho para o seu interlocutor, e sobretudo sem papas na língua”.

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