Funeral de Nagrelha gera caos na Deolinda Rodrigues e provoca um morto e mais de 30 feridos
Um menino de aproximadamente 13 anos de idade perdeu a vida nesta terça-feira, 22, em consequência do caos que se instalou, por volta das 10h00, no último adeus ao cantor de kuduro Gelson Caio Manuel Mendes, mais conhecido por ‘Nagrelha’. A informação foi confirmada pelo superintendente-chefe da Polícia Nacional (PN), Lázaro Conceição, à imprensa, no rescaldo dos eventos ocorridos na avenida Deolinda Rodrigues, onde se localiza o cemitério da Sant’Ana, onde foi o artista a enterrar.
A cerimónia fúnebre do conhecido ‘Estado Maior do Kuduro’ ficou marcada por inúmeros actos de vandalismo de bens públicos e privados, agressões físicas a transeuntes, várias viaturas danificadas, o que originou a que muitos automobilistas, no desespero, tentassem mudar para o sentido contrário, subindo nos lancis. Tentativas, entretanto, mal-sucedidas, já que alguns carros acabaram por ficar presos.
Um outro confronto opôs efectivos da Polícia Nacional e os jovens que arremessavam pedras, queimavam pneus, chegaram a agredir fisicamente vários agentes da ordem pública, que acabaram feridos e com as fardas ensanguentadas.
O episódio mais “icónico” foi quando um camião, que transportava grades de cerveja, começou a ser invadido estando este em andamento. Jovens escalaram o atrelado e de lá começaram a atirar para o chão grades de cerveja que acabaram destruídas.
O motorista do referido camião foi obrigado a acelerar o veículo, mas não evitou que, ainda assim, algumas pessoas se colocassem atrás do mesmo, no intuito de conseguirem sacar de lá pelo menos uma grade completa ou intacta.
Nos vários vídeos partilhados nas redes sociais é possível ver uma avenida Deolinda Rodrigues inteiramente tomada pelo caos. Além das cenas dos assaltos e agressões físicas, foram também testemunhadas outras em que a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) foi chamada a intervir, dispersando alguns jovens com recurso ao lançamento de gás lacrimogéneo ou mesmo fazendo disparos no ar.
A situação tomou contornos mais alarmantes logo após o surgimento do carro do cortejo fúnebre. As imagens não deixam qualquer dúvida. A avenida Deolinda Rodrigues, que estava completamente tomada por uma moldura humana, ficou sem um único espaço em branco para acolher mais populares.
Após o cortejo irromper pela multidão em direcção ao cemitério do Sant’Ana, difícil foi conter os ânimos dos populares que acorreram ao local e que pretendiam, a todo o custo, adentrar no ‘campo santo’, que não tinha capacidade para acolher um terço da população que ali estava.
Dentro do cemitério, familiares e amigos do cantor Nagrelha tiveram de realizar, às pressas, o enterro, porque a ameaça de invasão do recinto era cada vez mais iminente.
O próprio cordão de segurança formado por efectivos da Polícia Nacional, Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, Polícia de Trânsito, entre outros, foi visto várias vezes através dos ecrãs das várias estações de televisão que transmitiam em directo o enterro a pressionar os coveiros, no sentido destes baixarem o caixão o mais rápido que pudessem ao túmulo.
De acordo com os dados provisórios da Polícia Nacional, foram registados 17 civis feridos, 16 efectivos das forças de defesa e segurança, bem como foram registados vários roubos e a vandalização de viaturas afectos à PN e a órgãos de comunicação social.
Nascido aos 30 de Outubro de 1986, no distrito do Sambizanga, em Luanda, Nagrelha, como era popularmente conhecido, foi co-fundador do mais antigo e famoso grupo de kuduro, ‘Os Lambas’, o qual integra Bruno-King, Andeloy e o já falecido Amizade, que o fundou.
Para trás, Nagrelha deixa esposa, quatro filhos e um número incalculável de fãs, já que tinha a fama comprovada de ser o cantor de kuduro a maior legião de fãs em Angola, e o seu funeral é a prova mais cristalina disso mesmo.
