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Etiópia. Rebeldes de Oromo denunciam ofensiva em pleno processo de paz

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Os rebeldes do Exército de Libertação de Oromo (OLA, na sigla em inglês) acusaram, esta quarta-feira, 17, o governo federal etíope de lançar uma ofensiva contrária à “esperada desescalada” após as recentes negociações de paz iniciais mal-sucedidas.

Activo na região de Oromia, a maior e mais populosa da Etiópia que circunda a capital Adis Abeba, o OLA luta contra as autoridades etíopes desde a sua divisão em 2018 com a histórica Frente de Libertação de Oromo (OLF, na sigla em inglês), a qual havia renunciado à luta armada naquele ano, quando o actual primeiro-ministro, Abiy Ahmed, chegou ao poder.

O governo etíope e o OLA — classificado como organização terrorista por Adis Abeba desde 2021 — iniciaram conversações a 25 de Abril em Zanzibar, uma ilha semi-autónoma da Tanzânia, que os rebeldes descreveram como “preliminares de negociações mais profundas”.

Odaa Tarbii, porta-voz do OLA, em declarações à AFP, disse que após o fim desta primeira ronda de conversações, concluída a 3 de Maio sem progressos, “o regime lançou uma ofensiva total (…) que é contrária ao espírito de desanuviamento que esperávamos”.

“Apesar de não ter havido um cessar-fogo formal, foi acordado que seria preferível uma diminuição da escalada durante o processo de negociação”, acrescentou.

Com esta ofensiva, continuou, as autoridades federais estão a tentar “ganhar uma posição de força e a forçar a aceitar as suas condições”.

“Mas não devem tomar o nosso empenho na paz como um sinal de fraqueza”, frisou.

Com o acesso restrito à região, é impossível à AFP verificar de forma independente a situação no terreno.

Questionadas sobre o assunto, as autoridades etíopes ainda não responderam aos pedidos de comentários da AFP.

“De momento, não temos datas específicas para a próxima ronda de negociações”, disse também Odaa Tarbii, e o OLA “deixa a porta aberta para continuar as negociações”.

Estimada em alguns milhares de homens em 2018, a força do OLA aumentou significativamente nos últimos anos, embora observadores o considerem insuficientemente organizado e armado para representar uma ameaça real para o governo federal.

A Oromia é a região do povo Oromo e é afectada por uma violência multifacetada, o que torna a situação extremamente confusa: lutas políticas internas, disputas territoriais e animosidades entre comunidades, bem como o recente desenvolvimento do banditismo armado.

Nos últimos anos, tem sido palco de massacres étnicos — os autores não estão claramente identificados — em especial nos Wollegas, uma zona remota no extremo oeste, onde visam principalmente os Amhara, o segundo povo mais numeroso da Etiópia, mas uma minoria muito pequena em Oromia.

O OLA tem sido repetidamente acusado pelo governo de Abiy de ser responsável por estes massacres, o que esta organização nega sistematicamente.

O governo é acusado de repressão indiscriminada que alimenta o ressentimento dos Oromo contra o governo federal.

LUSA

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