Isto É Notícia

Comandante municipal da Polícia Nacional em Marimba manda prender professores para impedi-los de se deslocarem a Malanje

Partilhar conteúdo

O comandante municipal da Polícia Nacional em Marimba, na província de Malanje, superintendente Salvador Manuel Sebastião, deteve, no sábado, 3, mais de uma dezena e meia de professores, após estes desobedecerem uma ordem verbal do próprio, que determinava que não podiam deslocar-se até ao município sede, onde pretendiam, entre outras coisas, fazer compras de bens e meios de subsistência.

Num áudio partilhado nas redes sociais, horas antes de os professores serem detidos, é possível ouvir o comandante municipal da PN de Marimba a proferir ameaças sem qualquer pudor, dando ordens para que nenhum professor ousasse colocar-se a caminho de Malanje, sob pena de acabarem detidos, algemados e serem levados, de forma coerciva, para a cadeia.

“Se vocês andarem a pé, e localizar um professor, vou deter por desobediência. Vão ficar nas celas e vão ser encaminhados para o Ministério Público (MP), para julgamento sumário”, advertiu o superintendente Salvador Manuel Sebastião, recusando-se a ouvir os apelos de diálogo feito pelos professores.

“Ninguém sai, ninguém sai”, insistiu gritando. “Se forem apanhados pela polícia a andarem a pé, detenção, directamente para o Ministério Público, julgamento. Vocês juraram bandeira, são professores do Marimba. Então, é aqui onde vocês têm de estar.  Vocês não devem sair como um qualquer… saiu, está a ir a Malanje, não! Vocês são iguais a um polícia, igual a um camarada das Forças Armadas, dependem de ordem da administração pública. E eu estou a falar porque recebi orientações superiores”, ameaçou o oficial da PN.

“Colocaram polícia na saída do município, ruas, e em algumas residências dos professores, como forma de vigiá-los”

Em causa está, por um lado, a situação de mobilidade para quem resolve sair do município de Marimba para a capital da província, e, por outro, a situação da greve no ensino geral convocada pelo Sindicato Nacional de Professores (Sinprof), que tem gerado em todo o país um clima de mal-estar entre o corpo docente e as direcções provinciais ligadas ao sector da educação.

Em Marimba, a situação da mobilidade ganhou contornos alarmantes, com o início da época chuvosa. Nesse período, não é possível fazer-se deslocações em direcção a Malanje, senão com o auxílio de tractores ou através de viaturas de marca Kamaze.

Há três semanas, por exemplo, que os professores que leccionam no interior de Marimba vêem-se a braços com a escassez de víveres, que só podem ser adquiridos com recurso a Malanje. Tal facto teria levado que perto de duas dezenas de docentes se organizassem para ir ao município sede, aproveitando a segunda fase da greve dos professores.

“Importa dizer que em época de chuva, não é qualquer carro que consegue ir a Marimba, apenas tractores, e nalguns poucos e sacrificados casos, e com algum atrevimento, os Kamazes”

Entretanto, após aperceber-se da intenção do grupo de professores, o comandante municipal, de viva voz, proferiu a referida ordem de proibição do grupo ausentar-se de Marimba, no mesmo dia em que também estava a agendada a assembleia provincial do Sinprof, que decidiria sobre a continuidade da greve no ensino geral já a partir do dia 6 de Dezembro.

De acordo com informações postas a circular nas redes sociais por elementos ligados aos professores em Malanje, a ordem de detenção que teria sido dada pelo vice-administrador municipal local, com o objectivo expresso de a polícia impedir a saída de quem quer que fosse, bastando que se tratasse de um quadro ligado à educação.

“Precisamos de ajuda, por favor. Muitos dos nossos colegas estão detidos no comando municipal, em um número aproximadamente de 17 professores. Começaram a capturar hoje de manhã. Neste momento, aqueles que de algum modo manifestaram vontade de migrar para Malanje, foram postos nas celas, enquanto outros foram colocados em uma das salas do comando”, lê-se numa das denúncias tornada pública via Facebook.

“Importa dizer que em época de chuva, não é qualquer carro que consegue ir a Marimba, apenas tractores, e nalguns poucos e sacrificados casos, e com algum atrevimento, os Kamazes”, acrescentou a mesma fonte.

“Colocaram polícia na saída do município, ruas, e em algumas residências dos professores, como forma de vigiá-los, ou seja, estão fortemente vigiados, e não podem movimentar-se. Para terminar, tudo indica que a fonte, terá sido intimidada”, relatou.

ISTO É NOTÍCIA

Artigos Relacionados