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Brasil. Autoridades prometem punir responsáveis por motim em Brasília

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Os protestos de apoiantes do ainda Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, contra o resultado das eleições presidenciais de Outubro subiram de tom na segunda-feira, 12, com a multiplicação de episódios de vandalismo em Brasília. Um grupo de pessoas tentou invadir a sede da Polícia Federal (PF) na capital e vários veículos foram destruídos, mas não foram realizadas detenções.

A fúria dos bolsonaristas que estão concentrados há mais de dois meses em frente ao quartel-general do Exército em Brasília foi despertada pela detenção de José Acácio Xavante, um dos principais líderes dos protestos. Xavante foi preso por ordem do juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, depois de ter sido identificado como participante em acções anti-democráticas, tendo integrado um protesto em frente ao hotel onde o Presidente eleito, Lula da Silva, tem ficado hospedado nas últimas semanas no Distrito Federal.

Assim que o bolsonarista foi levado para o edifício da PF, um grupo de manifestantes tentou invadir o local, mas a polícia conseguiu repelir a multidão. Em seguida, os participantes no motim espalharam-se pelas ruas circundantes e incendiaram várias viaturas que foram encontrando. A certa altura, entraram em confronto com a polícia, atirando pedras, que foram respondidas com granadas de gás lacrimogéneo.

Na manhã desta terça-feira, 13, o balanço do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (DF) apontava para a destruição total de quatro autocarros e um carro e parcial de um autocarro e dois automóveis.

Apesar do lastro de destruição e da tentativa de invasão de um edifício público, a secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal disse que não foi realizada qualquer detenção até à manhã de terça-feira. No entanto, o responsável pela pasta, Júlio Danilo, garantiu que “quem esteja envolvido em actos de vandalismo, [e] tenha cometido crime, será responsabilizado”.

O secretário de Segurança do Distrito Federal rejeitou também a ideia de que a polícia tenha agido de forma leniente para com os apoiantes de Bolsonaro, conhecido por granjear um forte apoio político junto das forças policiais. Danilo disse ainda que a manutenção dos acampamentos de bolsonaristas na capital será um assunto para ser “reavaliado”.

A escalada de violência em Brasília coincidiu com o dia da cerimónia de diplomação de Lula como Presidente eleito – um acto protocolar que serve simplesmente para confirmar os resultados eleitorais e nomear oficialmente os futuros Presidente e Vice. No seu discurso, Lula afirmou que “poucas vezes na história recente do país a democracia esteve tão ameaçada”.

Desde praticamente o dia seguinte à segunda volta das eleições presidenciais, a 2 de Novembro, vencidas por Lula por uma curta margem, que centenas de apoiantes de Bolsonaro saíram às ruas, inicialmente bloqueando estradas em vários estados e, depois, concentrando-se em acampamentos em frente a quartéis militares.

Na sua generalidade, recusam-se a aceitar os resultados eleitorais, ora dizendo ter havido fraude, ora com o argumento de que Lula não deveria ter sido autorizado a candidatar-se. E, por isso, são frequentes os apelos para que as Forças Armadas intervenham para repor a “normalidade” política. Segundo o jornal Estadão, Lula pretende dar ordens aos futuros chefes das Forças Armadas para porem fim aos acampamentos assim que tomar posse.

Bolsonaro tardou em reconhecer a derrota e tem-se mantido largamente ausente da vida pública nos últimos dois meses. No entanto, nas raras aparições não tem deixado de respaldar as manifestações que contestam os resultados eleitorais e fazem a defesa de um golpe militar. Esta terça-feira, num discurso escrito lido durante uma cerimónia da Marinha, o Presidente afirmou que os fuzileiros navais “lutaram e sempre lutarão para impedir qualquer iniciativa arbitrária que possa vir a solapar o interesse” do Brasil.

Na sexta-feira, Bolsonaro foi mais directo, durante um curto encontro com apoiantes perto da residência oficial, e voltou a fazer referências às Forças Armadas como “último obstáculo para o socialismo”.

A cerimónia de tomada de posse de Lula está marcada para 1 de Janeiro e prevê-se que seja montada uma operação de segurança muito apertada. No entanto, a imprensa brasileira cita fontes da equipa do Presidente eleito que dizem não pretender alterar os planos previstos por causa dos incidentes desta semana.

PÚBLICO

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