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Ana Gomes responde à Isabel dos Santos e afirma que mandado de captura só peca por ser tardio

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A ex-eurodeputada Ana Gomes rebateu as afirmações de Isabel dos Santos, proferidas durante a entrevista exclusiva que concedeu à DW África, cuja íntegra foi publicada esta quinta-feira, 24, na qual a empresária angolana acusa o Estado angolano e a Procuradoria-Geral da República de terem forjado “documentos falsos” que viriam a ser usados no dossier ‘Luanda Leaks’.

Ana Gomes — que afirma ter sido o informático português Rui Pinto a fonte primária do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), sendo que todas as provas viriam a ser verificadas e re-verificadas por jornalistas — usou o mesmo órgão de imprensa para desmentir a empresária, considerando que o ‘alegado mandado de captura internacional’, solicitado pela PGR angolana, só peca por ser tardio.

“Acho que esse mandado tardava da parte das autoridades angolanas, tal como tarda qualquer mandado de captura por parte das autoridades portuguesas. Qualquer indivíduo com fome que rouba uma galinha é preso”, afirmou Ana Gomes à DW África, salientando que só “no caso de Isabel dos Santos, que contraiu empréstimos de milhões junto da banca portuguesa e deixou os bancos portugueses ‘a arder’, até hoje [é que] não foi accionado nenhum procedimento por parte das autoridades judiciais portuguesas”.

A política ligada ao Partido Socialista, que acha inaceitável o facto de as autoridades portuguesas não se terem pronunciado ainda sobre a possibilidade de um mandado de captura, à semelhança do solicitado pela PGR angolana, disse que a alegada indiferença ao caso é “também produto de uma cumplicidade política” em Portugal.

Há largos anos atenta aos assuntos ligados aos direitos humanos em Angola e também à corrupção, Ana Gomes não acredita na tese apresentada por Isabel dos Santos à DW África.

“Não é verdade. A principal fonte do ‘Luanda Leaks’ é o jovem português Rui Pinto, que é também a principal fonte do Football Leaks. Toda a informação foi verificada e re-verificada por jornalistas. Para além de accionista de alguns dos bancos, com participações qualificadas, ela era também administradora de um banco em Portugal. E essa era obviamente uma posição ideal para poder fazer as operações de branqueamento de capitais dos recursos que eram desviados de Angola”, argumentou.

À DW África, Isabel dos Santos negou ter “roubado o Estado angolano”, alegando que criou a Unitel com fundos próprios e que depois conseguiu empréstimos em bancos para expandir o seu negócio. Uma outra posição contestada por Ana Gomes, apontando a empresária angolana como uma das figuras que mais beneficiou do estatuto de ser filha de quem era.

Ela era filha do Presidente de Angola. Ela nunca teria acesso aos recursos e às posições que teve nessas empresas e aos recursos do próprio Estado angolano, se não fosse filha do Presidente angolano. Em termos da legislação internacional, quanto ao combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo, ela era uma pessoa politicamente exposta, exactamente pelas suas ligações ao Presidente angolano”, analisou.

Segundo Ana Gomes, “possivelmente, muito do dinheiro que ela investiu em Portugal, desviado dos recursos angolanos, era não só dinheiro dela, mas também do pai”, explicando aquilo que, para si, teria sido o alegado modus operandi utilizado pela empresária para conseguir conquistar o mercado português:

“Um dos esquemas a que a senhora Isabel do Santos recorreu foi o dos empréstimos, um esquema clássico para a lavagem de dinheiro — que sabia que vinha de origens contestáveis, muitas delas de recursos desviados do seu país e obviamente tendo a possibilidade de movimentar essas quantias, porque tinha uma posição privilegiada sendo filha do Presidente de Angola e não por mérito próprio como empresária”.

O ‘Luanda Leaks’ é um dossier produzido pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), no qual estiveram envolvidos mais de 120 repórteres de 20 países, que investigaram os negócios da empresária Isabel dos Santos, na altura “a mulher mais rica da África”.

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