Adalberto Costa Júnior considera que os problemas que Angola enfrenta resultam da falta de cultura democrática no MPLA
O presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, considera que “a falta de cultura democrática no MPLA” tem condicionado, em grande medida, o modo como o país é governado, já que é seu entendimento que “os vícios do partido no poder” acabam por ser os grandes empecilhos do desenvolvimento do país.
O líder da oposição, que se dirigia aos militantes do seu partido, no Huambo, por ocasião das comemorações do Dia do Deputado, comemorado a 8 de Maio, classificou como “ditadura” o clima vivido no seio do partido dos ‘camaradas’, que têm dificuldades em expressarem-se internamente com liberdade.
“Aquela ditadura que está dentro daquele partido — e é uma ditadura, companheiros, nós não podemos ter receio de chamar de outra maneira. O que se passa dentro daquele partido não é democracia. E quem não conhece a democracia no seu partido nunca vai governar de modo democrático um país”, criticou o presidente da UNITA, quando se referia ao MPLA.
Para o líder da UNITA, os problemas que a Angola enfrenta hoje resultam disso mesmo: “da falta de cultura democrática do partido que governa este país. Resulta dos vícios que esse partido continua a praticar”.
Adalberto Costa Júnior questionou, durante a sua alocução, sobre que “Angola está a ser construída pelo partido de regime”, e que que Angola têm os angolanos, volvido ano e meio depois da realização das eleições.
“Temos uma Angola melhor do que a do tempo do Dos Santos? O impensável está aí para toda a gente constatar. Em todas as dimensões. Se nós olharmos para o plano institucional, é um desastre. Nós não temos uma Angola em que as instituições funcionem democraticamente”, referiu.
O líder UNITA entende que “aqueles organismos que fazem o check and balance da governação, o controlo da governação, não funcionam”, por estarem dependentes de “ordens superiores” numa escalada cada vez pior. “Antigamente, talvez houvesse alguma intenção ainda de fazer de conta. Agora nem se faz de conta. Perdeu-se toda a vergonha. Os tribunais não funcionam”, acrescentou.
A crítica do presidente da UNITA foi também extensiva à Assembleia Nacional, que diz tomar decisões que vão em desencontro com aquilo são as competências, como, por exemplo, votar contra os seus próprios interesses.
Ainda os resultados eleitorais de 2022
“Nós não vamos repetir 2022, naquilo que muitos de vós tendes receio. Não vamos. Nós estamos a trabalhar para ganhar muito em 2027, para ganhar em grande quantidade em 2027, para ganhar em grande dimensão em 2027. Para ganhar muito mais do que em 2022. Numa dimensão muito forte. Iluda-se aqueles que estão a pensar que com os militares e polícias na rua vamos voltar a dizer vamos para as instituições. Acabou. Acabou mesmo. Acabou”, declarou o líder da UNITA.
“O mais engraçado não é o que nós ouvimos aqui dentro, é o que ouvimos lá fora. Você viaja um pouco por este mundo e são os governos que te dizem que você ganhou. É doloroso, é triste, mas são eles todos…”
A alusão ao ano de 2022 deve-se sobretudo ao período pós-eleitoral quando surgiram acusações sobre alegada fraude e porque também o líder da UNITA tem sido alvo de críticas por não ter convocado, na ocasião, o povo para sair às ruas para contestar os resultados anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
O presidente da UNITA disse ainda não ter dúvidas de que naquele ano o seu partido venceu as eleições, tal como lhe dizem hoje alguns africanos que estiveram em Angola a observar as eleições de 23 de Agosto.
“Nós em 2022 trabalhámos para ganhar. E hoje ninguém tem dúvidas de quem ganhou. E o mais engraçado não é o que nós ouvimos aqui dentro, é o que ouvimos lá fora. Você viaja um pouco por este mundo e são os governos que te dizem que você ganhou. É doloroso, é triste, mas são eles todos, porque sabem o que é que se passou aqui. São os observadores africanos que foram aqui utilizados que nos dizem quem ganhou e estão a dizê-lo”, revelou.
Adalberto Costa Júnior criticou também a postura do Tribunal Constitucional, por este ter legitimado a inscrição dos congressos dos partidos no limite temporal das eleições, tendo citado como exemplos os casos dos congressos do Bloco Democrático, da UNITA, da FNLA. “Que belo país este! Dois meses apenas antes das eleições é que os partidos ficaram com as condições de concorrer. Isto é país?”, questionou.
No entanto, o líder da UNITA quer fazer melhor, e este fazer melhor passa por “trabalhar muito mais ainda”. “Para quê? Para não repetir aquilo que ocorreu no passado; para que o povo não perca a confiança nas instituições; para que o povo vá votar; para que a abstenção não seja premiada; para que as pessoas acreditem que a alternância é possível neste nosso país. E a alternância é possível, sim”, concluiu o político.