Zâmbia. Novo PR a braços com uma dívida com a China da qual não se conhece a magnitude
O novo Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, eleito num clima marcado pela indignação social e reivindicações por melhor tabela salarial — factores que ditaram em parte a queda do ex-chefe de Estado zambiano—, tem agora a delicada missão de renegociar a dívida externa do país, sendo que um terço desta deverá ficar em poder da China.
O país africano que já se encontrava em situação de inadimplência, isto é, de incumprimento de pagamento da sua dívida externa, quando Hichilema assumiu o poder em Agosto deste ano, prepara-se agora para reestruturar o seu passivo, muito embora não se conheça ao certo a sua real magnitude.
Poucos dias depois de vencer as eleições presidenciais, a 12 de Agosto de 2021, Hakainde Hichilema descobriu um “buraco maior do que o esperado”nas finanças do país. Esse ‘buraco’ da dívida engoliu quase 40% da receita tributária até que o país se declarou inadimplente, em Setembro de 2020.
Hichilema tem agora enormes desafios durante o seu mandato. O primeiro dos quais será encontrar todas as dívidas, inclusive as que se extraviaram. Presume-se, entretanto, que um departamento ministerial tenha pedido emprestado dinheiro a um credor chinês sem notificar ninguém no governo, ou que o no executivo descobriu, após uma inadimplência inesperada, que deve pagar um empréstimo que o anterior havia garantido. De acordo com cálculos do laboratório AidData da American University William & Mary, só a dívida oculta da Zâmbia para com a China representa 8% do seu PIB.
“Agora que estamos no poder, começamos a ver que os números oficiais da dívida não correspondem realmente aos números reais”, disse Hichilema à revista Bloomberg, no final de Agosto, uma semana após a sua eleição.
Ao que tudo indica, os acordos foram negociados fora dos canais habituais, ou seja, a dívida foi acumulada sem autorização do Parlamento zambiano. Porém, Hichilema não quer esconder nada da dívida abismal da Zâmbia, que aumentou sete vezes em seis anos, tendo o cuidado de não assustar os investidores.
“Os credores da Zâmbia não precisam de se preocupar com a nossa situação financeira. Chegaremos a uma solução amigável e benéfica para todos”, escreveu Hichilema na rede social Twitter alguns dias depois da sua eleição.
“Teremos que colocar o cinto, porque ao que vamos assistir não vai ser bonito”, alertou recentemente um diplomata zambiano sobre a situação financeira do país.