Professores e alunos do CEARTE obrigados a defecar na mata. Escola está sem água e sem energia há um mês
Os estudantes do Completo das Escolas de Arte (CEARTE), localizado na zona da Camama, em Luanda, recusaram-se, esta terça-feira, 16, a assistir às aulas em sinal de protesto contra a falta de água corrente, energia eléctrica e transportes. A situação já dura há um mês e tem obrigado alunos e professores a usarem a mata adjacente para atenderem as suas necessidades biológicas.
Mal o dia acabava de nascer nesta terça-feira, os alunos daquele complexo escolar decidiram ‘dar um basta’ à caótica situação a que têm sido sujeitos, desde que, há um mês, foi interrompido o fornecimento de água e de energia eléctrica, agravado ainda ao problema dos dois autocarros escolares que deixaram de circular há quase um ano.
“Já vamos há um mês desde que a instituição não tem luz, nem água. Com o agravante de os meios de transportes disponíveis — os dois autocarros que o Ministério da Educação disponibilizou — não funcionarem a caminho de quase um ano”, relatou ao !STO É NOTÍCIA uma fonte local sob anonimato.
O corte no fornecimento de água e de energia ao complexo começou por ser justificado com um problema de avaria. Mais tarde, informações cruzadas entre várias fontes da instituição apontavam uma dívida à Empresa Nacional de Distribuição de Energia (ENDE) de mais de três milhões de kwanzas.
Desconhece-se, entretanto, qual é a situação da dívida do CEARTE com a Empresa Pública de Águas (EPAL), que, numa abordagem feita pelo !STO É NOTÍCIA através do Gabinete de Comunicação, descartou a existência de qualquer avaria naquela zona.
E mais: até ao fecho desta matéria, o director da instituição, Francisco de Castro Maria, não atendeu a nenhuma das chamadas telefónicas efectuadas.
“A situação da luz e da água foi-se arrastando durante duas semanas, e os meninos aqui na escola ainda ponderaram. Mas, após um mês, sentiram-se saturados, de maneira que eles decidiram hoje, dia 16, fazer uma grave, porque a escola não oferece as condições básicas, que são o fornecimento de água e de energia”, explicou a fonte do CEARTE a este portal de notícias.
Em consequência deste corte de energia e de água ao Completo das Escolas de Arte, em um mês, a instituição viu a situação de higiene e saneamento a transformar-se num autêntico atentado à saúde pública, principalmente para as meninas.
“Só em um mês, do jeito que estão as casas de banho — e aqui trata-se mesmo de uma questão de saúde pública, sobretudo por causa das meninas —, ninguém consegue usá-las. As casas de banho estão completamente sujas e com muita urina, de maneira que é impossível as meninas usarem”, ilustrou a fonte.
Diante da situação, e porque as necessidades biológicas são transversais a professores e alunos, ambos têm sido obrigados a fazer recurso às matas adjacentes para atenderem as suas necessidades biológicas.
Além das questões de higiene e saneamento, estão também as dificuldades correntes da própria instituição, que, há um mês, não consegue emitir certificados, nem declarações, nem tampouco fazer cópias de documentos e/ou de enunciados de provas.
“Quer dizer, a instituição não está a funcionar, porque uma instituição sem luz, sem água não é funcional. Estas e outras situações fizeram com que os meninos ficassem agastados, mas agastados mesmo, e tivessem decidido no dia de hoje fazer uma greve”, confidenciou uma outra fonte ao !STO É NOTÍCIA.
Inaugurado em 2015, o CEARTE foi concebido para receber 3.840 estudantes, sendo a única escola vocacionada para o ensino das artes no país.
Está implantada numa área de quatro hectares, na zona Camama, nas proximidades do Centro de Produção da TPA da Camama e do condomínio Jardim de Rosas.
Violações sexuais
A ausência dos dois autocarros tem sido também um problema que não tem passado ao lado das más notícias. Todos os anos, existem relatos de alunas que sofrem violações sexuais, uma vez que são obrigadas a fazer um longo percurso a pé, atravessando um longo matagal, aliás, o mesmo que nos últimos dias tem servido para a descarga das necessidades biológicas.
Aos relatos de violações sexuais juntam-se também as agressões físicas a rapazes e assaltos à mão arma e com recurso a meios contundentes de que têm vítimas os alunos, o que fez com que várias vezes tivesse sido lançado o grito de socorro por parte da direcção da instituição, professores e alunos.