Polícia Nacional trava marcha contra a violência de género e detém dez manifestantes no Largo das Heroínas
Efectivos da Polícia Nacional (PN) impediram, neste sábado, 29, uma marcha de protesto contra a violência de género, reprimindo e pretendo pelo menos dez mulheres afectas ao movimento ‘Unidas Somos Mais Fortes’, que convocou o acto que tinha como palco de concentração o Largo das Heroínas, em Luanda.
Sob o lema ‘O nosso grito é justiça’, a marcha pretendia, neste mês dedicado às mulheres, lançar o alerta contra o elevado número de casos de violência do género que têm afectado mulheres dos mais diversos estratos sociais.
Entretanto, mal começaram a juntar-se ao redor do Largo das Heroínas — que desde muito cedo já contava com um forte dispositivo policial, munido de bastões e de armas de fogo —, as promotoras da marcha viram-se logo a braços com uma atitude truculenta das autoridades, que não quiseram sequer saber do expediente enviado ao Governo Provincial de Luanda (GPL), a dar nota da realização do referido evento, conforme determina a lei.
Confrontados com o documento protocolado, os efectivos da PN limitaram-se a informar que “as manifestantes não estavam autorizadas a concentrar-se no Largo das Heroínas, nem em qualquer outro ponto da cidade”.
Em declarações à DW, Ginga Patrícia, a responsável colectivo feminista ‘Unidas Somos Mais Fortes’ explicou que, apesar de terem cumprido todos os requisitos com bastante antecedência, receberam a informação da PN de que deviam dispersar e ponto final.
Diante da determinação das manifestantes, as autoridades policiais forçaram-nas a desfazerem-se dos cartazes e exigiam que as mesmas retirassem as t-shirts produzidas, com o slogan da marcha.
“Após a forte repressão, afastámo-nos do Largo das Heroínas e ficámos a cerca de 100 metros de distância. Ainda assim, a polícia voltou a interpelar-nos, exigindo que tirássemos as t-shirts, e que nos livrássemos dos cartazes e abandonássemos o local”, relatou Ginga Patrícia.
As manifestantes ainda contestaram a ordem da PN, argumentando de que estavam num espaço público, e que tinham todo o direito de ali estarem, mas de nada adiantou, porque foi precisamente nesse momento que a autoridades decidiram prender as organizadoras do protesto.
“Depois disso, decidiram deter as organizadoras da marcha. As únicas que não foram detidas foram Celina Sebastião e Patrícia Gonga, com o argumento de que Celina Sebastião tem uma deficiência física e, por isso, Patrícia Gonga deveria acompanhá-la até à casa”, acrescentou Ginga Patrícia.
As manifestantes foram levadas para uma unidade policial, onde ficaram por algumas horas, e pouco depois libertadas sem qualquer formulação de acusação.
*Com a DW