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Polícia Nacional impede manifestação e detém jornalista da Voz da América e mais de uma dezena de participantes

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O jornalista angolano Coque Mukuta, correspondente da Voz da América em Luanda, foi detido durante três horas, nesta quarta-feira,17, por efectivos da Polícia Nacional (PN), quando cobria uma tentativa de manifestação de jovens afectos ao Movimento Revolucionário Angolano (MRA), que pretendiam marchar exigindo eleições livres, justas, transparentes e credíveis.

De acordo com as declarações do jornalista e também membro do Conselho Directivo da Comissão de Carteira e Ética, à Rádio Ecclesia, “mesmo estando devidamente identificado”, os agentes da PN apropriaram-se dos seus meios de trabalho e colocaram-no dentro de uma viatura, com a qual estiveram a andar às voltas por algumas esquadras de Luanda, juntamente com um número indefinido de jovens, alguns dos quais, segundo o jornalista, detidos simplesmente por estarem na zona da manifestação.

“Estava devidamente identificado, tinha o passe pendurado, a carteira exibida, e todos os meios possíveis para perceberem tudo, até porque eles me chamaram. Identifiquei-me e ficámos a discutir cerca de 15 minutos, até que houve uma ordem de detenção. Porque eles ligaram, suponho eu, ao Comando Provincial de Luanda e lhes foi ordenada então a minha detenção”, contou o jornalista à emissora católica.

“Primeiro levaram-me até a uma esquadra que está na Vila Alice, e depois daquela esquadra levaram-me noutra onde começaram a interrogar-me novamente, e só depois é que houve uma ordem de soltura. Por causa de estar a filmar. Para mim é uma aberração”, desabafou Coque Mukuta.

O jornalista disse à Ecclesia que, até à altura em que recebeu ordem de soltura, e tendo sido devolvido ao local onde havia sido detido, vários organizadores da tentativa de manifestação encontravam-se escondidos, como o caso de Adolfo Campos, que, no entanto, ainda foi a tempo de garantir à VOA que iriam “continuar a pressionar para que corrijam as irregularidades do processo”.

Ao que se apurou, Coque Mukuta foi interrogado pelo oficial Bernardo João Tito, que, depois de ligar para um superior, deu ordem de soltura, sem que lhe fosse retirado o material que já estava na posse dos agentes da PN.

Em declarações à Lusa, o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, lamentou e condenou o sucedido, questionando a actuação da polícia, de quem ouviu explicações de que o facto teria ocorrido motivado por “um equívoco”.

Teixeira Cândido disse que “estas situações são recorrentes e incompreensíveis”, na medida em que o SJA já conversou com as autoridades policiais, no sentido de estabelecer um princípio de respeito mútuo pelo trabalho de cada um. No entanto, volta e meia vão aparecendo casos de detenções arbitrárias de jornalistas.

Nok Nogueira

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