Moco faz apelo à reconciliação para salvar o país da hecatombe e espera que JES deixe de ser usado como o único bode expiatório dos males tidos como herança colectiva do MPLA
O antigo secretário-geral do MPLA Marcolino Moco juntou-se ao coro de vozes que defendem o surgimento de múltiplas candidaturas no próximo congresso ordinário do partido do governo, colocando-se assim ao lado de Julião Mateus Paulo ‘Dino Matross’, que chegou a aconselhar o Presidente João Lourenço a não tentar uma ‘terceira via’ para se manter na liderança do país.
Através do seu perfil do Facebook, o ex-primeiro-ministro angolano apela, em particular, ao MPLA a estar à altura de uma verdadeira reconciliação nacional, que não teria apenas como finalidade defender os seus próprios interesses, mas evitar aquilo a que chamou de “hecatombe” para o país. Para tal, Marcolino Moco defendeu que é preciso deixar de atirar as culpas e a responsabilidade política a uma só pessoa.
“Reitero que nos reconciliemos a todos. Não tanto para salvar os nossos partidos históricos (no caso do MPLA, sempre em torno de uma só pessoa), mas salvar o nosso país da hecatombe. Apoio as palavras de Dino Matross, sobre o surgimento de candidaturas múltiplas, mas que JES [José Eduardo dos Santos] seja o último a ser apresentado como o bode expiatório de todos os males que são uma herança colectiva do MPLA”, apelou o Moco.
Em Julho de 2023 — enquanto participava de um evento denominado ‘Ao encontro da História’, realizado pelo Movimento dos Estudantes Angolanos —, o membro do Conselho de Honra do Presidente do MPLA, Dino Matross, aconselhou João Lourenço a não concorrer a um terceiro mandato. Um apelo que Marcolino Moco recupera para lançar um desafio aos seus correligionários, numa altura em que a futura liderança do partido é um tema que continua a agita o debate político no país.
Para Marcolino Moco, “está cada vez claro que, à volta do MPLA, está montada uma máquina para sabotar todas as oportunidades de avanço do país, para que grupos que se renovam constantemente, se aglutinem à volta de quem seja o epicentro desta fórmula obsoleta: presidente do MPLA e da República, com todos os poderes e mais alguns, sobre o país”.
Moco levanta inclusive a possibilidade de uma alegada teoria da conspiração extra-partidária: “Tudo muito intrigante para, muitas vezes como o tenho dito, pensar que alguém acima do MPLA, dentro ou fora do país tem estado a bloquear a estabilidade política, económica e social de Angola, utilizando a cobardia e a mesquinhice, dentro daquele partido histórico”.
“Retirem o título de ‘novo Chipenda’ ao general Dino Matross (que, por acaso, também é primo de JLo), que cada tempo tem o seu problema fundamental que deve ser resolvido. Que se negoceie, se necessário, com os que do exterior ou do interior acham que sem desestabilização não vão levar nada ou vão levar pouco. Angola é grande e tudo chega para todos”, escreve o político e académico, rematando:
“Sintamos vergonha, como políticos, do mal que temos feito ao país e aos povos de Angola, desde a independência”.