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Mais de sete em cada dez angolanos não conseguiram ter acesso a uma alimentação saudável em 2024. Quadro agrava-se desde 2017, revela relatório da ONU

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Mais de sete em cada dez angolanos não conseguiram ter acesso a uma dieta saudável em 2024. Os dados fazem parte do mais recente relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI) 2025’, de agências especializadas das Nações Unidas (ONU), que alertam para a existência de mais de 27 milhões de pessoas com insegurança alimentar no país.

Estima-se que, no ano passado, sete em cada dez angolanos, isto é, 71% da população, não tiveram condições para se alimentar de forma saudável, o que agravou ainda mais o quadro de insegurança alimentar no país. A situação, segundo os dados da ONU, vem-se agravando há pelo menos oito anos.

Desde 2017 — o ano em que João Lourenço chega ao topo do Poder Executivo, com discursos pujantes que prometiam um combate cerrado à corrupção e à impunidade, bem como a diversificação da economia — que se tem verificado uma tendência crescente no número de angolanos incapazes de custear uma alimentação adequada.

Para contextualizar, os dados da ONU revelam que em 2017 a percentagem de angolanos que não conseguiram ter acesso a uma alimentação saudável foi de 60,7%, mas esse número disparou para 71,4% em 2024.

De acordo com aquela organização, o aumento da insegurança alimentar em Angola é resultado de uma combinação de factores, com ênfase especial para as crises climáticas e económicas, como a seca extrema no sul do país e a desvalorização do kwanza, que se tem verificado também desde 2017.

Dados consultados por este portal no relatório indicam que em 2024 a subnutrição no país atingiu 22,5% da população angolana (8,3 milhões de pessoas) e que a prevalência de crianças angolanas menores de cinco anos afectadas pela falta de alimentos cresceu de 1,5 milhões para três milhões entre 2012 e 2024 — o que agravou o quadro da desnutrição no país, que, segundo dados do próprio governo, disparou de 38% em 2015-2016 para 40% em 2023-2024.

Universidade do Porto e MINSA

Um estudo conjunto recém-publicado pela Universidade do Porto, em co-autoria com o Ministério da Saúde (MINSA) e o Instituto Camões revelou que quase metade das crianças angolanas com menos de cinco anos no sul do país sofre de desnutrição crónica e somente 3,5% delas têm uma dieta “minimamente aceitável”.

A insegurança alimentar é uma condição social e económica, ao passo que a subnutrição é uma condição fisiológica ou médica, ou seja, é o resultado directo da ingestão insuficiente de alimentos ou da absorção inadequada de nutrientes pelo corpo, levando a um estado de saúde deficiente. Ou seja, a insegurança alimentar é uma causa, enquanto a subnutrição é a sua consequência.

Estudo

A edição de 2025 do SOFI que, em particular, examina o impacto da inflação dos preços dos alimentos na segurança alimentar e nutrição a nível global, aponta que nos últimos oito anos a fome diminuiu no mundo, à excepção de África e do Médio Oriente.

O SOFI constitui o relatório anual de monitorização global dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam erradicar a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de má nutrição até 2030.

A elaboração do relatório é um esforço conjunto de cinco agências especializadas das Nações Unidas: a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Alimentar Mundial (WFP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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