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Mais de 100 crianças em Angola foram acusadas de feitiçaria em 2024 e número tende a crescer, revela INAC

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O Instituto Nacional da Criança (INAC) recebeu mais de 100 denúncias de crianças acusadas de feitiçaria em 2024, segundo avançou nesta quarta-feira, 14, o chefe do Departamento de Prevenção de Violência e Protecção dos Direitos da Criança, Bruno Pedro.

Em declarações à Lusa, o responsável contou que o INAC tem recepcionado inúmeras denúncias, tanto que, no que diz respeito aos casos de crença em feitiçaria ou de violência contra as crianças, os números apresentam um ligeiro crescimento por força do trabalho das autoridades que têm sensibilizado as pessoas sobre a necessidade de denúncia.

Na última semana, através do seu habitual boletim informativo, o INAC reportou uma dezena de casos, com destaque para o de uma criança de nove anos que foi torturada e mutilada, durante meses, em Luanda, por um pastor de uma igreja, por crença na feitiçaria.

A criança, carregada pela própria mãe, foi entregue ao suposto pastor para que este retirasse espíritos malignos, tendo sido submetida a várias práticas desumanas. Agastado com a situação, o pai da menor acabou por denunciar às autoridades.

Bruno Pedro disse que o serviço SOS-Criança do INAC tem facilitado as denúncias, que passaram a ser anónimas, sem requerer a presença das pessoas, como acontecia anteriormente.

O responsável acrescentou que o INAC tem feito pesquisas sobre crenças e práticas culturais que fomentam a violência contra crianças, chegando à conclusão que a falta de conhecimento sobre determinadas situações, como o autismo, leva as pessoas a cometerem esses actos.

“Muitas vezes as pessoas, quer por serem desinformadas, quer por não terem habilidade para lidar com essas situações, muito mais facilmente abandonam as crianças, acusam-nas de feitiçaria, porque desenvolveu alguma patologia ou tem um comportamento menos normal”, explicou.

Bruno Pedro sublinhou que existe a tendência de se atribuir a culpa de certas situações nas famílias às crianças, muitas vezes por pessoas ligadas a seitas religiosas, que conseguem convencer os seus familiares.

De acordo com Bruno Pedro, essas pessoas conseguem fazer com que os menos informados acreditem que qualquer “comportamento anormal” da criança se deve ao facto desta ser “feiticeira”.

“Como consequência, as crianças são submetidas a certos rituais para serem libertas dos ditos espíritos maus. Muitas vezes são abandonadas, são vítimas de violência, nos casos em que tudo isso não redunda em morte da criança”, contou Bruno Pedro, admitindo que ainda há pessoas que não denunciam esses casos.

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