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“Lunático é pensar que o MPLA estará eternamente no poder”, a reacção de Moco às declarações de Ju Martins

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O antigo secretário-geral do MPLA e ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco reagiu esta terça-feira, 2, às polémicas declarações do secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais do Bureau Político do partido do governo, João de Almeida Martins ‘Ju Martins’, defendendo, sim, a necessidade de se negociar a transição política em Angola, sob pena de o país continuar a ter “donos” e “excluídos”.

O político, que tem reagido com alguma frequência a abordagens ligadas à vida política nacional na sua página do Facebook, usou a mesma via para repudiar o tom pouco amistoso como Ju Martins se referiu ao líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, a quem o responsável do partido do governo chamou de “lunático”, por ter manifestado durante um “encontro negocial” a firme convicção de que podia chegar a Presidente da República já nas eleições de 24 de Agosto.

“‘Lunático’ é pensar que o MPLA estará eternamente no poder, mantendo-se lá, sempre à custa de habilidades de toda a ordem”, escreveu Marcolino Moco, atacando o rótulo usado por Ju Martins.

“Na verdade, discutir uma ‘transição’, para além de ser muito útil para o país, ao tranquilizar as populações, possibilitando o investimento interno e externo não descartáveis, é muito benéfico para o futuro dos próprios membros do MPLA, dentro ou fora do poder, com o que pode ser chamado de ‘direitos adquiridos’, por tão longo tempo no poder, que beneficiem o desenvolvimento do país”, considerou o antigo primeiro-ministro.

Quanto à transição propriamente dita, Marcolino Moco afirma que sem ela o país não irá avançar, uma vez que a prioridade será sempre a conquista e a manutenção do poder, sobretudo, e de forma particular, no seio do partido no poder, o que, segundo o político, poderá comprometer o desenvolvimento do país.

“Por exemplo, ontem eram todos ‘eduardistas’, enquanto JES [José Eduardo dos Santos] vivo e na direcção do MPLA. Hoje, só sobrevivem os aparentemente ‘lourencistas’ ferrenhos, que voltaram a ser ‘eduardistas’, porque JES já cá não está entre nós”, descreveu Moco a situação interna actual do MPLA.

Para o antigo n.º 2 do partido dos ‘Camaradas’, o MPLA resume-se hoje na “manipulação e na vingança”, tendo sido destruído o pouco que ainda funcionava, como resultado da ‘acumulação primitiva do capital’, com que todos concordaram.

“Isto é um sistema onde hoje o excluído sou eu, mas amanhã poderás ser tu, ou juntar-se a mim. E nossos filhos e netos deixados num país sempre com este tipo de tensão do poder pelo poder que não se discute?”, questionou Moco, fazendo uma colação com exemplos bem-sucedidos alcançados por países que souberam preservar a estabilidade política.

“Mesmo lá onde os pilares dos Estados e nações estão sólidos (França, Portugal, Itália), negoceia-se o poder para o bem da estabilidade, sempre que necessário. Quanto mais nós a tatear na construção das nossas nações modernas, no atribulado continente africano?”, insistiu, questionando Marcolino Moco.

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