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Ju Martins ameaça ACJ e a UNITA e, de forma subliminar, dá praticamente o MPLA como vencedor das próximas eleições

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O secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais do Bureau Político do MPLA, João ‘Ju’ Martins, “advertiu”, esta segunda-feira, 1, o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, alertando-o de que, tal como em Fevereiro de 2002 — ocasião em que morreu o líder fundador do maior partido na oposição — “o Estado angolano, através das suas instituições próprias”, tudo fará para impedir “a realização de acções que periguem a estabilidade, a ordem pública, e toda a matriz fora da contenda política”.

O político — que falava numa conferência de imprensa, que serviu para responder às recentes revelações do líder da UNITA, segundo as quais alguns membros de topo do MPLA teriam estado reunidos há mês e meio com ele, no sentido de discutirem a transição política no país — começou por negar que o assunto em causa tivesse sido o aludido por Adalberto Costa Júnior, mas, sim, a polémica à volta da divulgação da afixação das listas dos cidadãos na base de dados, assim como os problemas que tinham que ver com o tratamento dos partidos na oposição ao nível da comunicação social pública.

“Nós estendemos a explicação ao presidente da UNITA de que a subversão em Angola foi vencida no dia 22 de Fevereiro de 2002. Nós, por antecipação, alertamos o actual presidente da UNITA que não era avisado estarem a fazer aquelas publicações de falsas sondagens, que não tinham ficha técnica, que não tinham nenhum elemento de sustentabilidade científica, que apontavam para um desempenho da UNITA muito vantajoso”, começou por explicar Ju Martins, alegando que “isso poderia criar a falsa imagem de que, se a UNITA perder as eleições de 24 de Agosto, como esperamos — porque estamos a trabalhar para isso — só perdeu porque foi fraude, porque foram manipulados os resultados”.

“Por isso, alertámos que não era avisado deixar que algum tipo de realizações e acções pudessem ter esse cunho, porque, aí dissemos-lhe claramente, não é o MPLA que vai tratar de contender com a UNITA; é o Estado que, através das suas instituições próprias, como fez em Fevereiro de 2002, também o fará agora se continuarem a ser realizadas acções que periguem a estabilidade, a ordem pública, e toda a matriz fora da contenda política”, ameaçou o responsável do MPLA.

Ju Martins afirmou que é convicção do seu partido de que o poder se conquista e que não se negoceia. “Ele conquista-se com um aturado e árduo trabalho, como o MPLA tem feito desde 1992, em 2008, em 2012 e em 2017”, sustentou, adiantando que, no referido encontro com o líder da UNITA, “havia, da parte do actual presidente da UNITA, notada convicção de que estava predisposto a vencer as eleições”, o que fez com que ele mesmo Ju Martins, sendo um dos interlocutores no referido encontro, não hesitasse em responder que a uma pergunta feita por Adalberto Costa Júnior:

“[Adalberto Costa júnior] colocou [a pergunta] se teríamos algum receio de viver num país que fosse governado ou liderado por ele. Nós respondemos também de modo frontal e categórico: em Angola há muitos lunáticos e que eu estava ali a falar com um. Se ele não trabalhou para vencer as eleições, acreditaria que não teria hipótese de vencer as próximas eleições. Isto foi dito claramente”.

O dirigente do MPLA afirmou que em circunstância alguma o tema sobre a transição teria sido o motivo para aquele encontro uma vez que, para tal, teriam de contar com a “orientação política da direcção do partido, e não apenas do líder do partido”.

“Também foi dito claramente ao presidente da UNITA que esta ideia que se foi criando de que eventualmente a oposição e particularmente a UNITA estaria com boas condições de vencer o pleito eleitoral, resultou seguramente do facto de, em finais de 2019, todo o ano de 2020 e grande parte de 2021, o MPLA, por respeito às disposições legais — que determinavam confinamento e a não realização de actos públicos de massas —, ter realizado muito pouca actividades notórias de massas”, assinalou Ju Martins, para disferir a seguir uma crítica ao seu mais directo adversário:

“Ao contrário de alguns segmentos da oposição e alguns sentimentos contestatários da sociedade civil, que, ao arrepio da lei, realizaram esse tipo de actividades. Então, criou a falsa imagem de que o MPLA, eventualmente, pudesse estar acantonado; o que não era verdade, porque, tão-logo se levaram estas restrições, foi notória a capacidade de mobilização, a capacidade de veiculação da mensagem que o MPLA tem e nunca havia perdido. Apenas nesse período foi menos notado. E também disso demos nota ao actual presidente da UNITA”.

Ju Martins diz que ACJ não controla a UNITA

Na mesma conferência de imprensa, Ju Martins disse que o seu partido sabia, à partida que o líder da UNITA, não tinha o controlo do partido, o que justifica, segundo sua convicção, em parte os actos de massas que aconteceram em Luanda e em Benguela. E mais: que a liderança do presidente da UNITA era efémera.

“Dissemos-lhe inclusive que ele era um líder a prazo. Era um presidente a prazo, não só porque sentíamos que ele não tinha o DNA da UNITA, mas que ele não controlava a sua organização”, sustentou, Ju Martins, que afirmou ter lembrando ao “actual presidente da UNITA” — uma forma de tratamento repetidas diversas vezes durante a conferência de imprensa — a definição da UNITA dada por Jonas Savimbi, num congresso do qual não fez parte Adalberto Costa Júnior, por na altura ser uma espécie de outsider.

“A definição que o líder da UNITA terá feito naquele congresso era que a UNITA era uma força armada de expressão política. Sendo uma força armada de expressão política, não era bom, e nem era avisado que algumas das acções que a UNITA estava a realizar, particularmente através da sua direcção em Luanda e da sua direcção na província de Benguela, pudessem ter esse carácter subversivo”, lembrou Ju Martins, reportando-se ao conteúdo da conversa que afirma ter com o líder da UNITA.

Além de Ju Martins, na conferência de imprensa, esteve também o chefe da bancada parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira.

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