Jornalistas realizam no dia 17 marcha de protesto contra a onda de ataques intimidatórios e de ameaças aos profissionais
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) anunciou, esta segunda-feira, 5, a realização, no próximo dia 17 de Dezembro, em Luanda, de uma marcha de protesto e repúdio contra os vários incidentes de que têm sido vítimas os profissionais da comunicação social em Angola, sob o lema ‘Quem tem medo da liberdade?’.
O anúncio foi feito durante a conferência de imprensa, realizada na manhã desta segunda-feira, no Auditório das Irmãs Paulinas, e decorre do facto de se terem avolumado as ondas de ameaças, assaltos e invasões domiciliares de que vários jornalistas têm sido vítimas, incluindo o próprio secretário-geral do órgão sindical, Teixeira Cândido, que chegou a receber, por SMS, uma ameaça anónima contra a sua integridade física.
Segundo Teixeira Cândido, nos últimos meses, vários jornalistas foram vítimas de assaltos e ameaças, incluindo invasão às suas residências onde são retirados apenas os computadores destes profissionais.
“Em Março deste ano, por exemplo, o director do jornal Expansão, João Armando, teve a sua residência assaltada, enquanto dormia. O curioso é que os meliantes não levaram nada de grande valor financeiro, somente os computadores”, denunciou o sindicalista.
Teixeira Cândido fez saber ainda que no mesmo mês, a jornalista Raquel Rio, viu igualmente a sua residência a ser invadida, tendo os autores do referido acto levado somente o seu computador.
De acordo com o secretário-geral do SJA, pretende-se com a marcha protestar contra as ameaças, de modo que se reforce a necessidade de se salvaguardar a integridade física e moral dos profissionais da classe, uma vez que “a actividade do sindicato é legal” e está consagrada na Constituição da República da República.
“Vamos fazer essa marcha. Não nos queremos antecipar ao Serviço de Investigação Criminal [SIC], mas queremos, com isso, realizar uma marcha de repúdio contra quem quer que seja ou esteja por detrás destes ataques que têm procurado silenciar ou intimidar os jornalistas”, justificou.
Por sua vez, Reginaldo Silva, jornalista e membro da Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA), defendeu que a organização, da qual é parte integrante, tem o dever de assegurar a liberdade de imprensa e a livre circulação da informação, razão pela qual a instituição deve pronunciar-se a respeito da situação que afecta o sindicato dos jornalistas.
“Achamos que a ERCA tem também o dever de se pronunciar sobre esta situação. A informação feita, com base nos dados que tenho, pareça-me muito pouca, lamentavelmente. Mas, foi apresentada na sessão plenária da ERCA. Seja como for, a entidade foi posta a par da situação e isso é o mais importante”, frisou.
Reginaldo Silva mostrou-se também preocupado com aquilo a que considerou tratar-se de um cerco por parte do governo sobre a imprensa privada, sobretudo a digital, que, no seu entender, “tem sido alvo de algum excesso de controlo por parte das autoridades, incluindo do Serviço de Investigação Criminal”.
O jornalista apontou como exemplo o caso da Camunda News, um canal de media digital que já foi alvo de notificações do SIC em pelo menos três ocasiões.
“Há uma espécie de cerco que se está a apertar em volta da media online. Não falo apenas de jornalismo nas redes sociais, falo também de projectos bem estruturados, como portais e site, que vão se tornando alternativas na obtenção de informação, como acontece com o resto do mundo, e Angola não está alheia a este fenómeno”, assinalou.
O conceituado jornalista apelou às autoridades a respeitarem a Constituição da República de Angola e a Lei de Imprensa, que consagram a liberdade de imprensa.
Reginaldo Silva defendeu a necessidade de se permitir que jornalistas freelancers constituam a desenvolver os seus trabalhos, desde que estejam devidamente licenciados, de modo que estes possam actuar dentro das normas legais e em conformidade com o código deontológico que rege a classe.