João Lourenço anuncia ‘limpeza de balneário’ no Bureau Político do MPLA e no seu Secretariado
Depois de, em Agosto deste ano, ter feito um inesperado comentário a respeito da futura liderança do partido e a renovação geracional que defendeu impor-se para os próximos desafios políticos no país, o presidente do MPLA anunciou, nesta segunda-feira, 16, uma ‘limpeza de balneário’, a pretexto do rejuvenescimento dos membros do Bureau Político e do seu Secretariado.
Em declarações, durante a abertura do seu VIII Congresso Extraordinário do MPLA, João Lourenço oficializou tudo aquilo que ‘à boca pequena’ já se conhecia como sendo uma pretensa ideia pessoal de renovar o Bureau Político do partido (e agora o seu Secretariado), com o alegado objectivo de afastar alguns nomes de peso que lhe possam vir a estorvar o caminho ou mesmo fazer sombra.
“Depois de encerrado este Congresso, vamos realizar uma reunião do Comité Central [CC], para nos ajustarmos aos grandes desafios que teremos de enfrentar, rejuvenescendo o Bureau Político e o seu Secretariado”, declarou João Lourenço, no discurso de abertura do Congresso Extraordinário que vai debater e aprovar, hoje e amanhã (16 e 17), a tese ‘MPLA- Da Independência aos Nossos Dias – Os Desafios do Futuro’ e fazer ajustamentos aos Estatutos do partido.
Na história recente do MPLA, esta é a sexta vez que, num Congresso Extraordinário, são tomadas ‘medidas de excepção’, que, no contexto actual, acabam por assumir o desafio de alterar a co-relação de forças no seio do partido no poder, excluindo alguns nomes da ‘velha-guarda’, contra quem João Lourenço já se mostrou incomodado, quando se referiu aos pré-candidatos (António Venâncio e Higino Carneiro) e às pretensões que poderiam ser impedidas por se revelarem “extemporâneas”.
“Na política, tal como nos desportos, apenas triunfam as equipas cujos membros se submetem à organização, à disciplina colectiva e respeitam as regras e orientações da liderança técnica”, disse-o João Lourenço, em Outubro deste ano, recorrendo à analogia desportiva: “Ninguém inicia uma corrida antes do tiro de partida, nem começa a jogar antes do apito do árbitro, sob o risco de desqualificação e prejuízo para a equipa”.
Sobre o facto destas alterações estarem a ocorrer em sede de um Congresso Extraordinário e não num Congresso Ordinário como era expectável estatutariamente, João Lourenço atribuiu o ‘mérito da causa’ à “capacidade que o MPLA tem [de] acompanhar e permanentemente se adaptar à dinâmica da própria vida interna do partido, da sociedade e da conjuntura internacional”.
Nandó e Higino Carneiro na mira
Em Agosto deste ano, quando anunciou a pretensão de ver jovens a liderar os destinos do partido, já haviam soado os alarmes, sobretudo pelo facto de se ter a ideia de que João Lourenço quer manter distante dos cargos de decisão do partido nomes como os de Fernando da Piedade Dias dos Santos ‘Nandó’ e de Higino Carneiro, principalmente estes dois.
Apesar de existirem mais dois nomes, nomeadamente os de António Venâncio e mais recentemente o de Valdir Cônego, este último membro do Comité Central, existe uma firme convicção de que João Lourenço tende a ‘investir’ contra os dois nomes de peso (Higino Carneiro e Fernando Dias dos Santos), ignorando António Venâncio, que, em 2021, tentou candidatar-se à liderança do partido MPLA.
“Vamos, por isso, continuar a apostar nos nossos jovens, prepará-los e dar-lhes todas as oportunidades de ascenderem até onde suas capacidades permitirem, inclusive para a assunção do mais alto posto de Presidente da República”, sentenciou João Lourenço, quando discursava, a 26 de Agosto, numa reunião com cerca de 2.700 primeiros secretários dos Comités de Acção do Partido (CAP).
Na ocasião, as declarações foram percebidas como um sério ‘aviso à navegação’ de que o líder dos ‘Camaradas’ não queria ver comprometido o seu plano de manutenção e controlo do poder, bem como de engajamento na liderança do MPLA, uma vez que se levanta a hipótese — pelo menos, a nova redacção do Artigo 120.º dos Estatutos fazem jus a isso — de que João Lourenço quer continuar a mandar no país por via do partido, assim que largar a Presidência da República em 2027, por força dos dois mandatos previstos na Constituição da República de Angola.
O VIII Congresso Extraordinário prevê a revisão do Artigo 120.º, cuja redacção actual determina que “o presidente do partido encabeça a lista de candidatos, pelo círculo nacional”. A alteração deve trazer um quadro político-partidário com duas forças com poder de mando, mas apenas uma com o ‘poder efectivo.
A emenda prevista nos novos Estatutos pretende promover uma certa bicefalia no poder, uma vez que — em caso de vitória do MPLA nas eleições gerais de 2027 e consequente manutenção de João Lourenço na liderança do partido, a indicação dos membros do governo passaria a estar sob a sua alçada, com o poder partidário discricionário de tirar e pôr no governo quem assim entender.