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JLo admite que “pensa calado” sobre a sucessão e que estaria em melhores condições de indicar o seu substituto “para que o país não fique nas mãos de um qualquer”

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O Presidente da República, João Lourenço, voltou a abordar o tema da sua sucessão na liderança do país, deixando recados aos seus mais directos adversários do partido. Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, o também líder do MPLA reiterou a sua aposta num candidato jovem em 2027, e colocou-se à disposição para ajudar a encontrá-lo, “para que o país não fique em mãos de um qualquer”.

Há já algum tempo que o tema sobre a sucessão presidencial em Angola deixou de ser tabu e João Lourenço, sempre que pode, tem feito questão de trazer o tema à baila sem demonstrar incómodo ao facto de estar à beira do fim de um ciclo político. No entanto, o facto de não revelar em si aparente incómodo não o tem livrado de declarações polémicas, sobretudo devido ao nome que se segue.

Foi o que sucedeu agora na entrevista que concedeu ao jornalista português João Fernando Ramos, da CNN Portugal, quando questionado se tem pensado no seu substituto. E, apesar de não ser novidade a sua posição em relação ao perfil do seu sucessor, não deixa de ser um tema de difícil gestão, que não só anima o debate público, mas como também baralha as contas dos seus adversários políticos dentro do partido.

“É evidente que penso todos os dias [na sucessão]. Penso calado, como se diz. Não seria verdade dizer que não penso, tenho de pensar, é meu dever pensar, porque não podemos deixar que o país fique nas mãos de um qualquer”, respondeu, sem hesitar, o Presidente João Lourenço, considerando ser sua “obrigação ajudar a encontrar um substituto”.

Sem nunca fazer referência a nomes, com a referida resposta, João Lourenço voltou a reabrir feridas recentes e a colocar em causa, no mínimo, duas pré-candidaturas já anunciadas no seu partido: a de António Venâncio e de Higino Carneiro, dois nomes que se não encaixam naquilo que entende como sendo o perfil ideal para o próximo Presidente da República.

“E digo ajudar porque não depende apenas da minha vontade, mas com certeza que estou em melhores condições do que qualquer outro cidadão de indicar o rumo a seguir. O que eu pretendo é que quem quer que seja que venha a substituir-me seja igual ou melhor que eu. Que faça igual ou melhor que eu. Se não conseguir isso, ficarei com remorsos. Sentir-me-ei, digamos, de alguma forma, responsabilizado por isso”, admitiu.

Entretanto, João Lourenço não esconde o interesse em ser parte do processo de sucessão, mesmo reconhecendo que a decisão não depende e só do seu querer e vontade.

“A minha luta é tudo fazer, a nível do partido, respeitando os estatutos do partido, a nível do Estado, a Constituição da República e as leis, para encontrar alguém que faça por Angola, no mínimo, igual ou de preferência melhor do que eu tenho vindo a fazer nesses anos de mandato”, reforçou.

Idade ideal

Mas, nem só do seu legado se alimenta as suas esperanças. João Lourenço quer muito mais do que isso. A sua preferência, mesmo não se tratando de um imperativo legal — uma vez que nada na Constituição da República lhe dá esse direito de condicionar candidaturas — continua a ser um jovem, à semelhança do que aconteceu há 47 anos, quando José Eduardo dos Santos, então com 37 anos de idade, assumiu a liderança do país.

“Há 47 anos atrás, tivemos a infelicidade de perder o Presidente Agostinho Neto, o primeiro Presidente, que proclamou a independência de Angola, e já naquela altura quem assumiu as rédeas do poder foi um jovem, só tinha 37 anos. O João acha que hoje 47 anos depois, ou mais — quando houver as eleições, em 2027, aí serão 50 anos depois de o Presidente José Eduardo dos Santos ter assumido a Presidência da República — acha que vamos regredir, vamos pôr alguém de 90 anos?”, questionou, para de seguida dar a resposta:

“Estamos a andar para trás. Se naquela altura já se teve a visão de se pensar num jovem, claro que não foi um jovem qualquer. Foi um jovem que, em nosso entender, estava preparado para assumir essa responsabilidade. E hoje, temos igualmente, não um, nem dois ou três, temos alguns jovens que, com certeza, estarão, quando chegar o momento, em condições e preparados, de todos os pontos de vista, para assumir as rédeas da governação de Angola”.

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