Há mais de dez milhões de pessoas em Angola que não têm o que comer, revela relatório da FAO
Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) revela que o nível de fome e insegurança alimentar em todo o país cresceu, e alerta para a existência de 11 milhões de pessoas que não têm o que comer.
Entre 2021 e 2023, o número de pessoas desnutridas no país disparou de 6,8 milhões para 8,3 milhões, enquanto a prevalência da insegurança alimentar grave subiu de 30% para quase 32%, havendo em Angola pelo menos 80% da população com restrições na alimentação, conclui o órgão das Nações Unidas.
Os dados da FAO mostram ainda que, no ano passado, 79,2% da população, cerca de 28 milhões de pessoas, esteve em Estado de insegurança alimentar moderada, ou seja, enfrentou dificuldades para se alimentar.
Em Maio deste ano, em reacção ao ‘Relatório Mundial sobre a Crise Alimentar’, para o qual trabalharam 13 agências da ONU e a União Europeia, o ministro da Agricultura e Florestas, António Francisco de Assis, desvalorizou previsões de um cenário pior em matéria de crise alimentar.
O governante chegou a afirmar, em entrevista exclusiva à Voz da América, que “Angola caminhava bem em matéria de segurança alimentar e combate à fome”.
“É suposição do relatório, não é a posição do governo de Angola. Estamos a trabalhar e a ir bem. Os resultados que estamos a obter não indicam isso, são avaliações individuais”, afirmou o governante, na altura.
O referido relatório das Nações Unidas, divulgado em Abril, avança que cerca de um milhão e trezentas mil pessoas em Angola, isto é, 4% da população angolana, enfrentaram níveis elevados de insegurança alimentar aguda em 2023, prevendo-se que a situação venha a piorar este ano.
Sem condições nem mesmo para uma refeição diária, é visível o número de famílias angolanas que fazem das ruas suas moradias, vasculhando contentores de lixo, na esperança de retirar dali sobras de alimentos para contornar uma penúria sem fim à vista.
A situação verificada e questionada, no dia 18 de Julho do corrente ano, pela perita da ONU em Angola, Attiya Waris, através de um relatório preliminar, que analisava os efeitos da dívida externa sobre os direitos humanos.