Fitch mantém rating de Angola abaixo do nível de recomendação de investimento e vê PIB a cair para 2,8% este ano
A consultora Fitch Ratings — uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito, ao lado da Standard & Poor’s e da Moody’s — decidiu manter o rating de Angola em B- (altamente especulativo) e a perspectiva de evolução em estável, prevendo para este ano um abrandamento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8% e uma quebra do rácio da dívida para 48,1% em 2026.
“O rating de Angola reflecte os fracos indicadores de governação, elevada inflação, altos níveis de dívida pública em moeda externa e um dos mais elevados níveis de dependência de matérias-primas entre os países analisados pela Fitch”, lê-se na nota que acompanha a decisão, divulgada na sexta-feira, 16.
Estes factores, no entanto, segundo a agência, são “equilibrados pelas reservas elevadas e acima dos pares e pelos excedentes da balança corrente, que oferecem alguma margem num contexto de um preço internacional do petróleo mais desafiante e de limitadas fontes de financiamento”.
Na nota que acompanha a decisão de manter o rating em B-, isto é, abaixo do nível de recomendação de investimento, a Fitch prevê um abrandamento do crescimento económico para 2,8% este ano, que compara com os 4,4% registados no ano passado, e considera que Angola não vai crescer mais do que 3% no próximo ano.
Segundo aqueles analistas, o país vai também enfrentar, nos próximos semestres, um preço do petróleo mais baixo, à volta de 65 dólares por barril, comparado aos 79,5 dólares de média do ano passado, e um “pequeno declínio” na produção, de 1,1 milhão de barris diários, em 2024, para 1,07 milhão este ano.
Estes indicadores, ressalta a agência de rating, vão ter um impacto orçamental significativo, devido à forte dependência da exportação do petróleo angolano para a obtenção de moeda estrangeira.
Em relação à dívida pública, os especialistas destacam a “redução abrupta” registada no ano passado, para 54,6% do PIB, se comparado ao rácio de 70,7% do final de 2023. Redução essa “motivada, principalmente, por excedentes orçamentais primários, forte crescimento nominal do PIB e por pagamentos de dívida externa no valor de 1,9 mil milhão de dólares norte-americanos”.
Para esta redução contribuiu a auditoria interna feita pelas autoridades angolanas, que encontrou duplicação de dados que representaram uma redução de 1,8 mil milhão de dólares, cerca de 2% do PIB.
A Fitch antevê ainda um défice orçamental de 2,4% do PIB este ano e de 2,3% no próximo ano, essencialmente por causa da queda das receitas petrolíferas, e estima que a despesa com os subsídios aos combustíveis diminua para 1,8% em 2025 e 1,4% em 2026, o que implica um aumento administrativo do preço dos combustíveis suportado pelos utilizadores.
Com uma previsão de crescimento de 2,8% e 3% neste e no próximo ano, respectivamente — abaixo dos 4,4% registados no ano passado, devido “à recuperação da produção petrolífera e ao forte desempenho dos sectores dos serviços e da exploração diamantífera” —, a Fitch considera que a inflação vai continuar elevada, ainda que esteja em desaceleração.
“Prevemos uma inflação média de 20% em 2025 e de 16% em 2026, face aos 28% de 2024”, lê-se na análise divulgada, que salienta que o crescimento dos preços está “bem acima” da média dos países com rating B, que registam uma inflação à volta dos 4%.