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Especialistas do BFA defendem que o BNA foi “precipitado” ao reduzir as três principais taxas de juro antes do final do ano

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Os especialistas do Gabinete de Estudos Económicos do Banco de Fomento Angola (BFA) defendem que a decisão do Banco Nacional de Angola (BNA) de reduzir as três principais taxas de juro foi algo precipitada, dada a incerteza de que a situação esteja totalmente controlada e a ausência de garantias de que as pressões inflacionárias transitórias (como as de Junho e Julho) não possam retornar.

“A inflação mensal, que desde o início do ano apresentou uma tendência de desaceleração, apenas registou acelerações em Junho e Julho, devido a choques nos preços das comunicações e dos combustíveis. Em Agosto, voltou a abrandar, sinal de que essas pressões foram de carácter transitório (…). Embora a decisão [do BNA] seja consistente com o actual curso das variáveis macroeconómicas, em especial a inflação, esperávamos que o banco central mantivesse as taxas inalteradas até, pelo menos, o início de 2026, optando por adoptar, deste modo, uma postura mais cautelosa”, defendem os especialistas na sua habitual nota informativa.

O posicionamento dos especialistas do BFA surge poucos dias depois da realização da última Reunião do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, durante a qual os responsáveis do banco central decidiram reduzir as três principais taxas de juro em 0,5 pontos percentuais, fixando a taxa base em 19% — a primeira descida desde 2023; a de juro e facilidade permanente de cedência de liquidez em 20% e a de absorção de liquidez em 17,5%.

“As decisões do BNA dependem, maioritariamente, da evolução da inflação, que tem mostrado sinais evidentes de desaceleração desde o final de 2024. O desafio do BNA será calibrar a política monetária de forma a apoiar a recuperação económica sem colocar em risco a estabilidade de preços, pois a expansão do M2 [agregado monetário que mede a oferta de moeda, englobando activos financeiros de alta liquidez] acima do crescimento real da economia poderia reacender pressões inflacionárias e cambiais, minando os avanços recentes”, alertam aqueles especialistas.

Por isso, acrescentam, “embora a recente medida seja consistente com a tendência actual da economia, a condução da política monetária nos próximos meses deverá ser guiada com bastante prudência, assegurando que os progressos alcançados se consolidem e que a confiança no sistema financeiro se mantenha intacta”.

Estabilidade cambial

Outro ponto de discórdia é o da “estabilidade cambial” do mercado que, segundo os especialistas, ainda enfrenta pressões significativas em face dos sinais de alerta, como o aumento do backlog (lista de tarefas) de divisas e a diferença em relação ao mercado paralelo.

“A relativa estabilidade cambial tem sido um dos factores que têm permitido ao BNA avançar com alguma flexibilização da política monetária (…). No entanto, essa estabilidade não significa ausência de riscos, pois continuam a existir sinais de pressão no mercado cambial que não podem ser ignorados. O primeiro sinal é o aumento do backlog de divisas, que no momento em que escrevemos se encontra entre USD 800-850 milhões, revelando que as necessidades de moeda estrangeira do mercado interno têm crescido, pressionando a capacidade de resposta”, assinalam.

Em outros termos, os especialistas mostram que “muitos agentes económicos estão a encontrar dificuldades em aceder às divisas necessárias para pagar importações ou cumprir obrigações externas, o que gera pressão adicional sobre o mercado cambial”.

“Outro factor a ter em conta é o diferencial, ainda relevante, entre a taxa de câmbio oficial e a do mercado paralelo, actualmente entre 20% e 23%. Esta diferença é um sinal claro de desequilíbrio entre a procura e a oferta de divisas no mercado. Assim, ainda que a taxa de câmbio oficial se mantenha estável e continue a servir de apoio para o controlo da inflação, o mercado cambial ainda continua sob pressão”, indicam.

Em suma, o BFA vê a decisão do BNA como prematura devido à necessidade de mais tempo para consolidar a descida da inflação e, sobretudo, aos riscos latentes no mercado cambial que podem ameaçar a estabilidade económica.

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