Crise alimentar em Angola: quase metade das crianças angolanas sofre de atraso no crescimento e mais de 22% da população no país padece de subnutrição
Quase metade das crianças angolanas (47,7%) sofre de atraso no crescimento, indicando desnutrição crónica, com mais de 22% da população em estado de subnutrida e sem acesso regular a uma dieta calórica suficiente. A conclusão é do Índice Global da Fome (IGF), referente ao ano de 2025.
Publicado recentemente pelas organizações Welthungerhilfe, Concern Worldwide e pelo Instituto de Direito Internacional da Paz e Conflitos Armados (IFHV), o relatório revela que, apesar dos progressos registados nas últimas duas décadas, quando a situação era considerada “alarmante”, no ano passado o país regrediu num dos indicadores sociais mais sensíveis: a desnutrição infantil.
Segundo o documento, consultado por este portal, quase metade das crianças menores de cinco anos (47,7%) em Angola sofre de atraso no crescimento, devido a uma má alimentação (desnutrição crónica). Trata-se de um aumento de quase 50%, face aos indicadores registados em 2023 (32,1%).
Para além disso, 5,1% das crianças enfrentam desnutrição aguda e 6,7% morrem antes de completar cinco anos. No geral, os especialistas das organizações afirmam que 22,5% da população angolana, mais de oito milhões, vive em situação de subnutrição.
A crise da fome em Angola atingiu um ponto alarmante, de acordo com o IGF de 2025. O relatório coloca o país na 111.ª posição entre 123 países avaliados, o que o coloca na lista das 13 nações com os piores índices no mundo e a pior entre as lusófonas.
Em Abril deste ano, Angola apresentou, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM) da Organização das Nações Unidas (ONU), uma das mais elevadas taxas de desnutrição crónica infantil a nível mundial, com uma média de quatro em cada dez crianças com menos de cinco anos a viverem o fenómeno.
“Os indicadores de nutrição de Angola continuam a ser preocupantes, com a desnutrição crónica (atraso de crescimento) a afectar 40% das crianças com menos de cinco anos de idade ― uma das taxas mais elevadas a nível mundial”, apontou, na ocasião, a agência da ONU que actua no combate à fome e à insegurança alimentar.
A desnutrição resulta de múltiplos factores, incluindo o acesso limitado a alimentos nutritivos, da falta de saúde materna e infantil, de serviços de saúde inadequados, da instabilidade económica e das normas patriarcais enraizadas.
Segundo o relatório do PAM, Angola está entre os países com mais desigualdade em todo o mundo, com 31% da população (11,6 milhões de pessoas) a viver abaixo da linha de pobreza, com menos de 2,15 USD por dia.