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BFA duvida de estimativas do BNA e prevê fortes possibilidades de uma aceleração da inflação nos próximos meses

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Os especialistas do Gabinete de Estudos Económicos do Banco de Fomento Angola (BFA) não acreditam que o país venha a ter uma inflação de 17,5% até ao final do ano, tal como estima o Banco Nacional de Angola (BNA). Aqueles peritos entendem que os vários factores internos, como o aumento das tarifas de electricidade e água e uma possível queda do preço do crude, vão jogar um papel preponderante.

O posicionamento dos especialistas do BFA surge poucos dias depois da realização da última reunião do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, durante a qual os responsáveis do banco central decidiram manter a meta de inflação para o final do ano inalterada em 17,5%, contrariando as expectativas de parte do mercado, que têm sido ajustadas face aos novos riscos no cenário externo.

“Na nossa análise, há uma possibilidade crescente de aceleração inflacionária nos próximos meses, impulsionada por factores internos, como o provável aumento das tarifas de electricidade e água, uma possível queda do preço do petróleo — que poderá resultar numa menor disponibilidade de divisas e pressionar a taxa de câmbio — e uma possível subida dos preços dos combustíveis ainda em 2025”, argumentam aqueles especialistas.

“Esses reajustes”, segundo defendem, “fazem parte do processo de remoção gradual dos subsídios, iniciado em 2023, e poderão representar uma nova fonte de pressão sobre os preços no curto prazo”.

Os peritos do BFA analisaram também as decisões do banco central quanto aos estímulos que vêm providenciando à economia nacional para promover maior liquidez.

Recorde-se que o CPM do BNA decidiu manter inalteradas as principais taxas de juro de referência e reduzir ligeiramente o Coeficiente de Reservas Obrigatórias em moeda nacional de 20% para 19%.

Os especialistas do segundo maior banco em Angola e 42.º no continente africano consideram que “a redução do Coeficiente de Reservas Obrigatórias aumenta as reservas livres no sistema bancário, permitindo que estas sejam potencialmente canalizadas para financiamento à economia”. No entanto, defendem que “nem toda a liquidez adicional resultará necessariamente em novo crédito ao sector privado, já que parte poderá ser alocada à aquisição de títulos de dívida pública”.

O Gabinete de Estudos Económicos do Banco de Fomento Angola defende, “por outro lado, [que] a maior disponibilidade de liquidez pode estimular a procura agregada, tanto por via do crédito público como privado, o que pode exercer alguma pressão sobre os preços”.

“Contudo, estimamos que este impacto seja modesto: as nossas estimativas indicam que uma redução de um ponto percentual no Coeficiente de Reservas Obrigatórias tende a provocar um aumento acumulado da inflação de cerca de 0,15% no médio prazo, com um efeito praticamente nulo no curto prazo”, estimam.

A política monetária em Angola tem entrado numa fase de ligeira flexibilização, impulsionada pela trajectória descendente da inflação observada desde o segundo semestre de 2024.

Por essa razão, os especialistas do Gabinete de Estudos Económicos BFA acreditam que a redução do Coeficiente de Reservas Obrigatórias pelo BNA sinaliza uma tentativa de estimular o crédito e a actividade económica, mas assinalam igualmente que “o impacto imediato sobre a inflação e o crescimento poderá ser limitado”.

“A desaceleração da inflação, especialmente nos bens alimentares, tem dado margem a este alívio, mas os riscos permanecem no horizonte, nomeadamente com a possível subida de tarifas administradas, nos preços dos combustíveis e uma possível queda do preço do petróleo, que poderá influenciar a disponibilidade de divisas”, concluem.

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