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PETRÓLEO. Especialista defende que as actuais cotações não dão garantias até ao final do ano

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O Brent, que serve de referências às exportações angolanas, está a negociar, nos últimos 20 dias, as entregas ao preço médio de 70 dólares, mais 20 dólares do que o valor negociado em Janeiro do ano corrente.

Apesar deste aumento significativo, o analista de petróleos José Oliveira alerta para as possíveis sanções a serem levantadas ao Irão, que podem vir a provocar uma ligeira baixa no preço do petróleo, pelo menos temporariamente. O analista justifica as suas suspeitas com o aumento das exportações que o país islâmico poderá vir a fazer, caso se concretize o levantamento de sanções.

A política da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e Associados, que visa evitar que a oferta mundial de petróleo seja superior ao consumo, é apontada pelo especialista como a principal causa dos preços actuais.

Entretanto, José Oliveira não tem dúvidas que, em termos orçamentais, caso as cotações se mantenham ao nível actual até ao fim do ano, se venha a verificar um considerável aumento de receitas estatais.

Questionado se o Angola pode tem agora mais chances de evitar uma sexta recessão económica consecutiva, em face do preço actual do petróleo no mercado internacional, José Oliveira coloca como condição o aumento do PIB petrolífero, a preços correntes, a fim de que se possa cobrir a recessão do PIB não petrolífero.

“Embora a produção média este ano ano seja inferior a 2020, penso que se a média anual do preço de exportação das ramas angolanas andar à volta de 60 dólares, o petróleo poderá evitar mais um ano de recessão”, considerou.

José Oliveira entende que os impactos mais reais da actual subida do preço do Brent poderá vir a ser sentido primeiro na ‘Mutamba’, facilitando a vida à ministra das Finanças na execução do OGE, bem como poderá vir a permitir que se cumpram igualmente os compromissos financeiros internacionais de maneira mais folgada, pode também gerar um pequeno aumento das nossas reservas líquidas de divisas.

“Os preços actuais ajudam também a Sonangol a vender melhor as participações do upstream [exploração, perfuração e produção do petróleo] que colocou no mercado recentemente. O que pode permitir que a empresa chegue ao fim do ano com menos dívidas, o que é muito importante no seu processo de reestruturação”, analisou.

O OGE foi aprovado com a referência de 39 dólares por cada barril, o que à partida pode vir a criar um conforto orçamental ao país. Para o especialista de petróleo, esta pode ser uma oportunidade soberana de Angola “reduzir o deficit do ano em questão, endividando-se menos”, já que, em seu entender, “o rácio dívida/PIB é muito elevado”.

A segunda prioridade, passaria pela aceleração do pagamento dos atrasados, “que já antes do Covid-19 criavam problemas às empresas privadas”. “Agora a situação é muito mais grave, pois tem gerado milhares de desempregados. A terceira [prioridade seria] bonificar os juros de financiamentos de projectos privados bem concebidos, para a diversificação da economia, que é a via que se deve ter quando as verbas de financiamento da economia são insuficientes”, realçou.
Em 2020, as exportações angolanas de petróleo bruto decresceram 7,26%, se comparada com as remessas totais do período anterior. No primeiro trimestre deste ano, as exportações registaram uma redução de 5,96% face ao trimestre anterior. Variações negativas que José Oliveira justifica com o facto de se estar a registar um declínio na produção do petróleo angolano.

“A produção de petróleo do país está em declínio e vai continuar assim. O que se espera nos próximos tempos é que algumas acções já aprovadas diminuam ligeiramente esse declínio anual. Ao longo dos próximos quatro/cinco anos vão surgir algumas produções novas, mas apenas cobrirão parte da redução que se vem verificando nos últimos anos”, concluiu.

Jaime Tabo

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