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Angola tem o dobro de pessoas que padecem de fome em relação aos países da SADC

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Mais de 5,5 milhões de pessoas em Angola sofrem de fome e desnutrição aguda. O número é duas vezes mais em relação à média dos países da África Austral, segundo relatório da Agência das Nações Unidades para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Dados da FAO indicam que, de 2018 a 2020, o número de pessoas que padecem de fome em Angola subiu para 5,5 milhões, isto é, 17,3% da população angolana.

De acordo com o Jornalista económico Carlos Rosado de Carvalho, que falava esta terça-feira,14, à Rádio MFM, os números são alarmantes para um país cujo Presidente da República afirma categoricamente que “a fome é relativa”.

Para o economista, estes dados “desmentem” a afirmação do Presidente João Lourenço e demonstram que “a fome não é relativa e sim absoluta, ou seja, um facto que os angolanos enfrentam todos os dias”.

“O Presidente disse que a fome é relativa, mas eu começo justamente por afirmar que a fome não é relativa. Os dados estatísticos da FAO demonstram que a fome em Angola é absoluta, não há aqui nenhuma relatividade”, ressaltou o especialista em assuntos económicos, em reacção às declarações de João Lourenço sobre a relatividade da fome no país.

Publicado em Julho de 2020, o relatório “Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, da FAO, destaca que “quase uma em cada três pessoas no mundo (2,37 biliões) não tiveram acesso adequado à comida em 2020 – um aumento de aproximadamente 320 milhões de pessoas em apenas um ano”.

A FAO define a fome ou subnutrição como a condição de um indivíduo cuja alimentação habitual é insuficiente para fornecer em média a quantidade de energia dietética necessária para manter uma vida normal activa e saudável.

Em 2020, segundo o relatório da FAO, a fome disparou em termos absolutos e proporcionais, ultrapassando o crescimento populacional. Estima-se que cerca de 9,9% entre todas as pessoas no mundo tenham sofrido de desnutrição no ano passado, face aos 8,4% em 2019.

Mais da metade de todas as pessoas subalimentadas (418 milhões) vivem na Ásia; mais de um terço (282 milhões) em África; e uma proporção menor (60 milhões) na América Latina e no Caribe. Mas o aumento mais acentuado da fome registou-se em África, onde a prevalência estimada de desnutrição – em 21% da população – é mais do que o dobro de qualquer outra região.

De um modo geral, o ano de 2020 foi devastador, mais de 2,3 biliões de pessoas (ou 30% da população global) não tiveram acesso à alimentação adequada durante todo o ano.

Este indicador – conhecido como “prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave” – saltou em um ano tanto quanto nos cinco anteriores combinados.

Os dados indicam ainda que as crianças foram as mais afectadas, estimando-se que mais de 149 milhões de menores de cinco anos sofriam de atraso de crescimento ou eram muito baixos para a sua idade; mais de 45 milhões –debilitadas ou muito magras para a sua altura; e quase 39 milhões – acima do peso.

Em 2020, cerca de três biliões de adultos e crianças permaneceram excluídos de dietas saudáveis, em grande parte devido aos custos excessivos na obtenção de alimentos, com maior realce para os países da África Austral, onde, em média, a população sobrevive com menos de um dólar norte-americano por dia.

A desigualdade de género aprofundou-se, ou seja, para cada dez homens com insegurança alimentar, havia 11 mulheres com insegurança alimentar em 2020 (ante 10,6 em 2019). Quase um terço das mulheres em idade reprodutiva sofre de anemia.

Em termos globais, embora se registam progressos em algumas áreas – mais bebés, por exemplo, têm sido alimentados exclusivamente com leite materno – o relatório da ONU espelha que o mundo está muito longe de atingir as metas do indicador nutricional até 2030.

Bernardo Pires

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