Angola regressa ao mercado dos USD através do Standard Bank após luz verde do banco JP Morgan
O Standard Bank Angola (SBA) recebeu, nesta segunda-feira, 27, a aprovação do gigante financeiro norte-americano JP Morgan para abrir contas correspondentes em dólares e euros, revelou a agência de notícias financeiras Bloomberg. A decisão foi tomada após o Comité Interno Global do Wall Street ter passado anos a avaliar uma possível reentrada no mercado angolano.
Há cerca de uma década (no final de 2015 e início de 2016) as relações directas de contas correspondentes entre bancos angolanos e bancos norte-americanos foram suspensas, por imposição regulatória do governo norte-americano, devido a falhas de compliance e suspeitas de lavagem de dinheiro nas operações financeiras.
Na altura, Angola era considerada um dos 20 países mais corruptos do mundo, segundo o ranking da Transparência Internacional, com alto nível de incumprimentos nas regras de combate à lavagem de dinheiro e corrupção por credores estrangeiros.
O corte das relações de correspondência bancária directa entre as instituições financeiras norte-americanas e angolanas causou uma profunda crise de divisas no país, uma vez que a perda de acesso directo aos dólares (USD) através dos grandes bancos dos EUA tornou as transacções internacionais mais caras, lentas e burocráticas, dificultando o comércio (importação de bens essenciais).
A escassez de moeda estrangeira levou a uma intensa desvalorização da moeda nacional e à expansão do mercado informal. Além disso, o corte serviu como um sinal global de desconfiança sobre a transparência do sistema financeiro angolano, o que resultou no isolamento e na inibição do investimento estrangeiro, agravando a crise económica do país.
Para o presidente da Comissão Executiva do Standard Bank Angola, Luís Teles, citado no comunicado, “esta conquista representa muito mais do que a abertura de contas correspondentes. Trata-se de uma parceria que reflecte colaboração, confiança e inovação entre as duas instituições e fortalece o potencial de crescimento de Angola e África na economia global”.
Esta iniciativa do JPMorgan é um impulso para Angola, que foi adicionada recentemente à chamada ‘lista cinza’ do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), que identifica países com deficiências no combate a fluxos financeiros ilícitos.
A inclusão de Angola nessa lista da organização com sede em Paris significa que o país está sujeito a uma monitorização mais rigorosa. Porém, o JP Morgan não se ausentara de Angola de forma integral, já que manteve acordos com o governo, muito embora tenha cortado contacto directo com os bancos.
O mais recente, por exemplo, foi em Dezembro e Janeiro últimos, quando o país emitiu cerca de 2 biliões de dólares norte-americanos em títulos como garantia para um empréstimo de um bilião de dólares ao gigante de Wall Street.
Em Abril, depois que os títulos angolanos em dólares caíram junto com os preços do petróleo bruto, o JP Morgan foi forçado a fornecer cerca de 200 milhões de dólares norte-americanas em garantias adicionais para atender a uma “chamada de margem recebida” vinculada a esse mesmo empréstimo.
Este regresso de um banco angolano ao mercado do dólar não garante, por si só, um cenário bom imediato, mas é um passo fundamental que torna a recuperação possível, ao restaurar a confiança internacional em pelo menos uma instituição angolana e ao facilitar o fluxo de dólares e euros para o país, tornando as transacções mais rápidas e baratas.